Nos últimos dias se falou muito sobreoassédio de José Mayer à figurinista da Globo, sem vínculo, Susllem Tonani. As redes sociais fervilharam, em um misto de indignação e perplexidade. A vítima fez forte desabafo ao blog da Folha de São Paulo. Em um trecho disse: “Foram meses envergonhada, sem graça, de sorrisos encabulados”. Chamou-me a atenção que no relato ela registra que as mulheres que presenciaram as investidas riam, sem qualquer reação. Após a divulgação das minúcias do assédio, ou melhor, do estupro – precisa registrar que estupro é toda vez que alguém investe contra a vontade de outrem, em sua intimidade sexual. Não é necessário que o agente tenha efetivado a condição para concretizar o desejo, basta que a ameaça seja séria, capaz de intimidar. É como agem os que se julgam com algum poder. Muitos defendem, inclusive, que mesmo no ato de uma relação sexual consensual, por exemplo, um dos parceiros pede para parar e não é atendido e se prossegue, é estupro.
Voltando: como se não bastasse a indiferença das colegas que presenciaram, após o relato dos meses de assédio, outras mulheres começaram, absurdamente, a questionar por que ela demorou tanto para reagir? Insinuando, inclusive, algo não contado. Ora, ora, esta falta de solidariedade feminina é lamentável, o que demonstra total desconhecimento do que de fato seja estupro, e toda violência emocional que o traveste.
A cultura machista estabelecida na sociedade tem, em parte, a sua manutenção sobre as próprias mulheres que, quando não se acham culpadas pelo que ocorreu, não se sentem apoiadas firmemente em suas denúncias.
Onde existem vaidade, poder, dinheiro, fama, veem-se grandes possibilidades de abusos e assédios em todas as direções. Há de se reagir. Apesar de ser do senso comum, mas nunca é demais gerar a empatia, perguntando-se se naquela situa- ção como reagiríamos se ocorresse com um dos nos nossos afetos?
Muitos afirmam que estamos vivendo momentos difíceis, em especial no Brasil, onde as pessoas estão se permitindo tudo, sem a menor desfaçatez ou mesmo constrangimento, desde um simples furar fila até desviar bilhões da Nação. É preciso, por consequência, que não deixemos certas questões banalizarem, mesmo com a insistência e repetição com que acontecem. A omissão é uma forma de escolha, de posicionamento, de tomada de lado e sempre, claro, da pior maneira possível. Se por um lado não podemos acreditar em tudo que ouvimos ou lemos, de outro é indispensável que criemos o nosso senso crítico avaliativo, reflexivo sobre tudo que acontece na sociedade a que estamos inseridos, e ajudando a formar. É preciso agir sem as paixões que cegam, mas com inflexibilidade da ética que engrandece.
José Medrado
Mestre em Família pela Ucsal
e fundador da Cidade da Luz
Coluna Opinião/Jornal A Tarde