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08h00

Banalidade da corrupção

A pesquisadora social Célia Regina Jardim Pinto questiona, na sinopse de seu livro a Banalidade da corrupção: uma forma de governar o Brasil, em que de fato consiste e se origina a hediondez da corrupção no Brasil? Por que ela é tão arraigada e resiste por décadas? O que isso revela? Ela, no entanto, afirma que essa questão tende a descambar para uma premissa equivocada, onde se afirma que o país nunca foi tão corrupto quanto nos dias que correm e que a natureza não é apenas de valores morais.

A preclara professora gera polêmica com tais assertivas, considerando que tais avaliações restringiriam o sistema tão macro a considerações de cunho pessoal. Afirma que o importante é estudar porque houve um aumento exponencial de tais crimes na vida republicana após a ditadura militar. A autora remete a um conceito de ética formal de domínio, por mais escabroso que pareça, ao universo político, como se eles vivessem em um mundo paralelo, formado por conceitos adstritos apenas ao seu funcionamento e entendimento. Por que o cenário moral brasileiro propicia tais condições? É certo que a proposta não é justificar, mas provocar a todos. Percebo nessa leitura que muitos de nós nos encontramos no nosso universo de vida, também sob a égide de, digamos, ética própria, em situação de levar vantagem em muitas coisas, na impossibilidade de tudo.

Naturalmente, que vivemos pregando o contraponto a este famigerado jeitinho brasileiro, sempre discursando contra ele, em reuniões, mesas de restaurantes, mas quando a conta chega sem acrescentar determinado item, por menor que seja, muitos silenciam, mesmo depois de manifestação conceitual de probidade.

Não faz muito tive uma bonita lição de ética de um amigo-irmão, administrador da Cidade da Luz: fazia uma caminhada com ele, quando avistei no chão uma cé- dula de dez reais amassada. Ato contínuo me abaixei, peguei. Ele naturalmente me perguntou: – Por que você pegou? Resposta óbvia: – Porque estava no chão. – Sim, Medrado, mas quem perdeu vai dar por falta e certamente procurará por onde passou, a fim de reencontrar. – Verdade. Não havia pensado, não pensava assim. Devolvi ao chão a cédula. O amigo leitor, agora, deve estar com o mesmo questionamento que me fiz: – Mas outra pessoa vai achar e pegar. Talvez, não saberia dizer, mas concluí: – Faço a minha parte e que cada um faça a sua. É possível que este raciocínio seja o que domina a elite política e os seus associados: – Se eu não fizer, outro fará. É possível, sim. Porém, a sua parte você fez. É isso: a nossa ética é associativa de comportamento constatado, mas precisamos assumir novos conceitos e atitudes. A sua parte você estará fazendo, à semelhança do beija-flor no incêndio.

 

José Medrado

Mestre em família pela Ucsal e

fundador da Cidade da Luz

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