No próximo domingo, 21 de janeiro, se pontua o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A data nasceu de um luto, quando Mãe Gilda, do Abassá de Ogum, veio a falecer por conta de grande dissabor vivido, ao ter sua foto publicada em um jornal de um segmento religioso, com texto que dizia: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. A matéria afirmava estar crescendo no País um “mercado de enganação”. Nesta reportagem a foto da Mãe Gilda aparece com uma tarja preta nos olhos. Essa matéria gerou uma saga da família, de muitos adeptos do candomblé, mas em especial da sua filha consanguínea, Mãe Jaciara Ribeiro, que a partir de então tem sido uma voz, às vezes silenciada, outras incompreendida, em luta pelo respeito ao direito laico do Brasil de ser.
Parece incrível que a Bahia, Salvador, que sobe em milhares à colina sagrada para receber água de cheiro em suas cabeças, derramada pelos representantes do candomblé, na Lavagem do Bonfim, seja a cidade onde as denúncias sobre intolerância religiosa têm se multiplicado terrivelmente. Entre os anos de 2014 a 2017 foram registrados, pelo Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis), do Ministério Público do Estado da Bahia, 132 procedimentos, envolvendo casos de intolerância religiosa no Estado. Em novembro do ano passado, o procurador da República, Jaime Mitropoulos, esteve visitando alguns terreiros de Salvador para, segundo ele, “viemos aqui para receber um diagnóstico do que está acontecendo e tentar entender como funcionam essas violências religiosas que estão cada vez mais frequentes em todo o Brasil. Nosso objetivo é entender o motivo pelo qual esses episódios se repetem e, a partir disso, poder reivindicar a liberdade religiosa, que é um direito constitucional”. Sim, e aí? Quais as ações reais que foram implementadas?
O fato é que não precisa diagnóstico, pesquisas... de forma alguma. A verdade será sempre a falta de vontade política efetiva para uma coibição de tais violências, pois os segmentos religiosos que atacam o candomblé todos sabem identificar, mas os políticos de plantão só vêm urnas, votos, poder de mídia, logo... quem é mesmo o povo de santo? Uma minoria que, em geral, não aprendeu a exigir os seus direitos e ainda, infelizmente, se embeleza para foto com políticos oportunistas. Guardam no inconsciente coletivo de sua descendência de pessoas que foram escravizadas a reverência, o abaixar a cabeça aos senhores da Casa Grande.
Enquanto as ações forem apenas para gerar notícias, sem a disposição de se fazer cumprir a Constituição, vamos ver o Brasil se tornar em um país fundamentalista de bancadas religiosas cheias de intolerância.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e
fundador da Cidade da Luz