Pois é, Quarta-feira de Cinzas: dia de arrependimentos para alguns, nostalgia para outros, cansaço para muitos, mas também de sentimento de prazer, por ter vivido um Carnaval tranquilo, só com alegria.
Este Carnaval, no entanto, trouxe uma polêmica, quando Paolla Oliveira postou uma foto em seu perfil, em uma rede social, onde aparece fantasiada de índia. Nada importou que a caracterização de Paolla remeta à tribo Sioux, da América do Norte. O problema surgiu porque a acusaram de apropriação cultural indevida, ao usar um traje que não tem a ver com suas “raízes étnicas”, defenderam muitos, e ainda afirmaram que “pessoas não são fantasia”.
Ora, ora, de logo já questionamos que neste caldo cultural que sempre trabalhamos a autoafirmação de que o povo brasileiro é fruto de miscigenação e vamos falar de raízes étnicas? De quem, dos suecos que por acaso moram na Bahia, por exemplo? De outra parte, nessa linha de argumentação (pessoas não são fantasia), o que dizer dos blocos de homem vestido de mulher? Será uma grande ofensa às mulheres? Ou ainda, o que dizer do uso da própria língua “brasileira”, que se substancia com tantas matrizes e culturas?
Não desconsidero aqui que muitas pessoas se sintam ofendidas, quando aspectos da sua forma de ser sejam caracterizadas de maneira que divirja dos seus conceitos. Entendo, no entanto, que muitas vezes o problema não está no outro, mas em si mesmo. Talvez até pela discriminação que sempre sofreu. É preciso, no entanto, não buscar o outro extremo, que se evidencia preconceituoso, intolerante, discriminatório para defender os seus pontos de vista.
Pessoalmente, não entendo esta tal questão de “apropriação cultural”. Não seria bom que, repito, nesta cultura-resultado de tantas vertentes, de tantas mesclas de diversos povos e tradições que incorporamos no ser brasileiro, que vivamos, ainda que em um período, essa nossa brasilidade?
Segundo o proponente da psicologia cultural-histórica, Lev Vygotsky, a cultura é um produto da vida social, de uma atividade contínua e permanente do homem, sempre permeada por uma concepção histórica de origem.
Por outro lado, não se pode descuidar que o conceito de apropriação cultural é antigo. Já foi motivo de controvérsia, por exemplo, como apropriação cultural a introdução da cultura grega no império romano, após a conquista; considera-se apropriação culturalonumeral arábico no ocidente, assim como a tradução e posterior desenvolvimento da filosofia aristotélica pelos árabes no início da Idade Média. Assim, nada disso é novo, ainda que, entendo, sem qualquer sentido, por ser anacrônico, nesses dias que deveriam ser de inclusão. Evitemos os conflitos, em vez de vivê-los.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal
e fundador da Cidade da Luz