O ataque ao presidenciável Jair Bolsonaro evidenciou o que a psicologia das massas tem dedicado especial atenção, nos processos sociais que surgem com base em uma frustração, que degenerando em medo de perder alguma coisa, ou mesmo de não conseguir o que se aspira, por exemplo, busca na reação de ódio a sua forma de compensação. Depreende-se de Freud, em Psicologia das massas e análise do Ego, de 1921, que todo desejo grupal é projetado no e ou pelo líder que, em alguns casos, dominado pelo desejo de poder e de autoengrandecimento, busca manipular, controlar esse grupo, funcionando como uma espécie de porta-voz das angústias, desilusões e perdas. De logo, percebemos bem claras tais situações em partidos de direita e esquerda no Brasil. Naturalmente,eaí vem o autoengano, os lados se culparão reciprocamente, mas, em análise desapaixonada, o fato é que ambos guardam as suas responsabilidades no processo.
Não é novidade que de há muito se tem buscado, em campanhas políticas, condição de manipulação e identificação de bodes expiatórios, que possam capitanear toda uma insatisfação reinante em grupos que se sintam desamparados, perdidos, sem liderança. O problema, no entanto, é quando se cai na tentação de se eliminar o elemento perturbador, que na avaliação dos seduzidos, se torna o responsável de tudo de ruim que está acontecendo em nossas expectativas de bem-estar. O pesquisador comportamental Patrick Wanis cita a teoria do grupo fora do grupo, quando nos sentimos ameaçados por pessoas específicas, nós recorremos instintivamente ao nosso grupo – aqueles com quem nos identificamos –, para nos fortalecer, em uma espécie de mecanismo de sobrevivência de um ideal, de sonhos.
O psicólogo Bernard Golden acredita que quando o ódio envolve a participação em um grupo, isto pode ajudar a promover um senso de conexão e camaradagem que preenche um vazio na identidade e desamparo das pessoas. O ódio de indivíduos ou grupos na direção de outros grupos e ou pessoas é uma forma de criar a própria identidade. O ódio está fundamentado em algum senso de ameaça percebida. O indivíduo consumido pelo ódio pode acreditar que a única maneira de recuperar algum senso de poder sobre a sua dor é atacar preventivamente os outros. Nesse contexto, cada momento de ódio é um adiamento temporário do sofrimento interno.
O ódio deve ser aprendido, Golden diz: “Todos nós nascemos com a capacidade de agressão e de compaixão”. As tendências que abraçamos exigem uma escolha consciente por indivíduos, famílias, comunidades e nossa cultura em geral. A chave para superar o ódio éaeducação em casa, nas escolas e na comunidade, em processo contínuo do direito de autoafirmação pessoal.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz