Hoje é o Dia da Consciência Negra, não tenho dúvidas de que o nosso A TARDE está cheio de considerações, homenagens e chamamentos para esta compreensão. Assim, resolvi falar de consciência geral, daquela que perpassa pelo respeito absoluto ao outro, não por favor, mas por dever de cidadania. Sim, o Brasil é racista, há ainda o racismo religioso, mesmo que muitos queiram dissimular, em atitudes para lá de delirantes quando se tenta dizer que não existe racismo em nosso País. A arrogância de muitos chega ao deboche da consideração que não possuímos como povo um mínimo de entendimento do que se passa à nossa frente. Respeito é a senha, para tudo. Outro aspecto deste respeito não dado e até ridicularizado por muitos vemos também na falta de compreensão do direito civil de ser o que a pessoa se autodetermina, nas raias da nossa Constituição. Desse jeito, vemos perplexos que até hoje está dando o que falar o desfile, na São Paulo Fashion Week (SPFW), do modelo Sam Porto, quando fez um protesto. Primeiro homem trans a desfilar no evento, onde ele tirou a camisa para mostrar as cicatrizes deixadas pela mastectomia e exibiu a mensagem: respeito trans. A história desse rapaz é de luta e busca de aceitação, no processo de identificação com os seus ideais de ser, mesmo diante de uma sociedade hipócrita, onde se questiona a sua autoaceitação, pois se ela resolveu ser ele, que autoridade alguém pode evocar para dizer, impor que ele não é ele? Religiosos surfando em ondas anticristãs defendem princípios de discriminação, exclusão, ainda que se sustentando intencionalmente em distorções interpretativas evangélicas equivocadas, e escondendo seus reais interesses. Os arrogantes em busca de impor os seus conceitos. Ou ainda aqueles que querem banir os espelhos de sua frente. Quem de fato em domínio do bom senso poderá tentar roubar deste rapaz a sua identidade de gênero? A hipocrisia de muitos campeia, aliada à ignorância de outros tantos que aprenderam a ouvir e seguir, sem, ao menos, refletir sobre o se colocar no lugar do outro, ou mesmo tentar logicar sobre o que passa à sua frente. Nota-se um amontoado de achismo, irrigado com ideologias calçadas em posições individuais de certos líderes de todo tipo de segmento, que fecundam enraivecidamente os seus conceitos, evidenciando, muitas vezes, os seus desajustes pessoais. Vemos polarizações serem formadas sobre condutas pessoais, como se devesse haver um padrão a ser seguido, no ideal de ser alguém, de se encontrar em seus valores e orientações de vida. É como se alguns se sentissem senhores de outros, em atualização escravocrata, para os dias atuais, de atitudes e conceitos. Que seja hoje o dia da consciência geral da humanidade que somos. (R)
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz