Tem causado grande estranheza, no meio acadêmico, o conceito, direcionamento da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, em campanha que chegará em fevereiro, como forma de evitar gravidez indesejável: propõe abstinência sexual dos jovens.
Infelizmente, estamos vendo políticas de Estado sendo baseadas em princípios pessoais, no que deveriam ser políticas públicas, tendo no cidadão o interessado, não princípios ideológicos, principalmente religiosos. É preciso ter visão de ciência, e não de achismo.
A verdade, no campo da compreensão da sexualidade do juvenil, afirmam os estudiosos da sexualidade na adolescência, é que o jovem com o aparecimento da puberdade, a partir dos dez anos, se vê marcado com o início da adolescência. Este é um período pautado por múltiplas alterações, nomeadamente biológicas, fisiológicas, psicológicas, intelectuais e sociais, que se deparam com três grandes enigmas, em seu processo de maturidade: o da identificação do lugar do sujeito nas tensões relacionais do mundo inter-humano, o da filiação e o da sexualidade.
São, portanto, exigências de reposicionamento vital, diante do processo de deixar de ser criança (10 anos) e não se sentir adulto (pós 18). Dessa forma, ao jovem só resta, após o transbordamento aflitivo do impacto da sua realidade de ser e querer ser, considerar: o emudecer (primeiro tempo da adolescência); depois, solicitar, a seu modo, até com confrontos e rebeldias que dos outros venham as palavras que lhe faltam para nomear as vivência, as suas experiências (segundo tempo da adolescência); para, por fim (num terceiro tempo), lançar-se na aventura de se reconstruir, diante do que é e recebeu, inventando, muitas vezes até criando alguma respostas só suas, inéditas às exigências pós-pubertárias, seguindo em direção à condição adulta.
Como a sentimentos em crescimento e se autoidentificando apenas querer, para um fator quase que basilar, os desejos sexuais, na descoberta de si e do outro ser, seja colocado simplesmente o se abster. A garotada vai galhofar, certamente.
O que precisa é a educação mais abrangente e direta, considerando os pais, os adultos próximos, como instrumentos de posicionamento e confiança, para um desenvolvimento sem repressão, mas guardando a responsabilidade nos efeitos das decisões que esses jovens tomarem. Proteger é educar para o mundo, para a vida, pois toda castração gera compulsão. A cada tempo com o ajuste às suas demandas, pois o que já passou, vira história.
*José Medrado | Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz