Na semana que passou tivemos em notícias a posse da nova secretária nacional da Cultura, Regina Duarte, e o Dia Internacional da Mulher. Efetivamente, dois momentos de corporificação do refletir e sentir a tão falada, nem sempre entendida, cultura. Definida de diversas formas, em verdade cultura retratará sempre os diferentes modos de organização da vida social, referindo-se tanto à humanidade como um todo, quanto às nações, às sociedades e aos grupos sociais. O seu conceito não é engessado, muito menos estanque em uma forma, um perceber, pois sempre será um feixe dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente, que caracterizam um povo, principalmente em um lapso temporal, mas em permanente influência do por vir. Será sempre o modo como os indivíduos se comportam e expressam seus valores e seus “viveres”, em um recorte de época. É a concretização finalizada de atitudes, ideias e condutas compartilhadas e transmitidas pelos componentes de uma determinada sociedade Dito isso, e aí surgem as preocupações quando começamos a ver uma tentativa de subversão equivocada de todo esse processo, através de imposição de grupos ideológicos políticos e ou religiosos, que tentam, através de características de conduta particular, impor os seus valores e conceitos. O filósofo americano Skinner levantava sempre em suas aulas em Harvard a preocupação da formação de uma cultura, mediante apenas o passar de conceitos e interpretação do mundo por meio de poucas pessoas, ainda que não acreditasse no livre-arbítrio humano, pois as ações serão sempre consequências de outras anteriores, dizia, mas exatamente aí estava o foco da sua preocupação: a formação de uma onda crescente, contínua em uma só direção, tentando fazer um ideal de cultura sobre pensamentos unificados de poucos. Hoje se tenta colocar na cultura o que a moral de uma linha ideológica deve comportar, além da dimensão do como se deve agir, a do como se deve ser, tentando unidade onde por excelência só é pluralidade. Assim, o esvaziamento da dialética na formação da cultura sempre gerará um retrocesso, em tolhimento às escolhas pessoais, em suas empatias pelos processos de valores de sua forma de perceber e vivenciar o mundo. A vivência democrática se faz sempre por escolha, e aí está o melhor: vejo e busco o que quero, guardo o direito das minhas escolhas e o dever de respeitar aos que não querem ver, compartilhar, vivenciar os meus processos, em uma cultura que não seja de falsa moral excludente, que em nada representa a história de um Brasil por excelência plural, de múltiplas raízes, sedimentadas em ideais de liberdade. (R)
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz.