Assistimos no último domingo (17) à jornalista Clarissa Oliveira, da Band, ser agredida por uma dos apoiadores do presidente Bolsonaro, que circulava com uma bandeira, criticando os profissionais de imprensa e se referindo aos jornalistas como ‘lixo’. Muitos se manifestaram afirmando que foi uma bobagem, que “ela nem se machucou”, como se violência fosse só expressada com o derramamento de sangue. Raciocínio raso e, certamente, inconsequente e estimulador das ondas crescentes de violência que estamos presenciando em atos políticos. Esse tema – violência – é recorrentemente tratado na obra da filósofa alemã Hannah Arendt, encontramo-lo no texto denominado “Sobre a Violência”, bem como no clássico intitulado “As Origens do Totalitarismo de Hanna Arendt”. A filósofa de origem judia aponta como surge a violência nos domínios da política, trazendo um consenso entre os estudiosos de que “a violência nada mais é do que a mais fragrante manifestação de poder”, como se fosse uma reafirmação de quem pode subjugar. Vemos que o poder no Brasil tem conotação de quem tem dinheiro, cargo político eletivo ou ainda quem guarda posição de destaque no Judiciário. Voltaire nessa esteira afirmava que “o poder consiste em fazer com que os outros ajam como eu quero”, pois o poder é meu, acresço. É nesse clima que vemos esta evolução crescente e estimulada por detentores de plantão do poder, estabelecendo uma espécie de imposição conceitual vertical, de cima para baixo, de quem pode fazer, mandar ou desmandar. Quem pode, pensam, manda calar a boca, em nome de quem, ainda, se pode agredir, jogar bexigas de água, em suma quem se torna alvo, por indicação direta ou insinuada dos que se consideram detentores do poder. Arendt resume a forma extrema de associação de poder com a violência, em uma espécie de opção para que a estrutura de poder seja mantida. Pesquisadores da universidade de psicologia e neurociência de Nova York, em estudo publicado na revista Current Biology, descobriram que escutar um grito pode até ativar no cérebro a reação de sentir medo,eesse éomotivo pelo qual muitos gritam, mas revela também que os que gritam estão evidenciando um maior medo, pois percebem que não têm onde se apoiar em reação de equilíbrio e aceitação do que desagrada. É aquela velha certeza popular de que “quem grita perde a razão”. A pesquisa, por fim, reafirma que não apenas perde a razão, mas evidencia um grande temor, retrato da insegurança diante do que defende e precisa vociferar para se tentar impor o que não é aceito. Infelizmente, no campo da política, os fanáticos tendem a buscar o modelo do seu ídolo e não mais sendo escutados em seus gritos, partem para a violência que cresce a cada omissão da sociedade.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz