Esta semana, após mais um ataque ao Supremo Tribunal Federal e omissão do presidente da República, a líder de um pequeno grupo de supremacia branca, Sara Geromini, conhecida como Winter, foi presa, após cavar, buscar de toda forma esta evidência nacional. Não resta dúvida alguma que se trata de mais uma que quer trampolim de visibilidade, para se lançar à política, visto que não se trata, de forma alguma, de ativista, mas de agitadora de um nicho. O Brasil parece que está se diluindo na intolerância, onde por todos os lados o cultivo do ódio gera evidência e traz destaque a correntes específicas, que muitos chamam de “ideologia”, mas que em verdade é um radicalismo conveniente, mesmo minoritário, mas que faz estardalhaço, gera inquietude, e, desta forma, o nosso país começa a ser visto por muitos como uma sociedade em retrocesso, e o mundo já nos vê como os indesejáveis. Até o governo de Portugal já disse que não poderá receber brasileiros se o bloco europeu impedir a entrada, por conta do descontrole da pandemia da Covid-19. Criou-se o nós e eles, e isto se aprofundou, equivocadamente, em esquerda e direita, onde quem discorda de um lado, os patrulhadores afirmam que é do outro, sem conceber a mínima possibilidade que pode apenas se tratar de discordâncias de visão e conceitos de vida. O ódio virou virtude para um grupo;aagressão, instrumento de reafirmação das tais ideologias. Foi assim que vimos um homem derrubando cruzes em ato em homenagem às vítimas do coronavírus, e postou: “Alguém viu minha indignação derrubando cruzes queaesquerda montou em Copacabana hoje? Não resisti”. Ora, era uma manifestação de respeito, de pesar... e o pai de uma das mais de 40 mil vítimas saiu recolocando as cruzes e pedindo respeito. É assim que tem sido. Vimos ainda pessoas invadindo hospitais para se certificarem se estavam cheios ou não, como sugeriu o presidente. Colocaram em risco algum procedimento de emergência do momento, ou mesmo os que estavam ali internados. Estamos vendo o ódio como combustível de argumentação dos insanos, dos que evidenciam insuportável convivência com diferença, com o plural. Os psicanalistas asseveram que a paixão do ódio é indissociável da paixão da ignorância, na compreensão de que a ignorância nem sempre leva ao ódio, mas este sempre estará ligado à ignorância. Essa paixão da ignorância é vinculada às formas de negação do saber, que pode assumir a face de ódio ao conhecer, cuja estrutura é o ódio a saber do outro, da diferença e da diversidade. “Sei que existe, mas não quero nem saber da diferença e odeio quem sabe, quem a expressa e quem me lembra de sua existência” – diz a narrativa neurótica do recalque.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz