É impressionante e muito triste o que vemos no país-referência do Brasil turismo no mundo afora. Sempre fui perguntado como era o Rio de Janeiro, e de um tempo para cá ele está sendo muito citado em rota de fuga para bandidos em filmes, perceba. Parece que, aí serve para quase o Brasil todo, os senhores que se julgam investidos de poder – em todo e qualquer segmento público – têm, sem qualquer constrangimento, desviado, lesado o erário sem qualquer receio. O poder o fazem se sentirem no Olimpo, acima da plebe, do bem e do mal. Muitos afirmam que se chega ao poder e então aproveita. Todavia, o ex-CEO da Visa, Dee Hock, diz com propriedade que “o poder não muda as pessoas, ele só tira as suas máscaras”. Com o que concorda o cientista político paulista Heni Ozi Cukier: “O poder não transforma, não muda a moral. Ele tira os freios, alavanca aquilo que já existe. Ninguém vira bandido porque chegou ao poder, a não ser que já tivesse essa propensão”. E o pior: cria-se uma espécie de cansaço moral da esperança, onde se evidencia uma constatação do “não tem jeito, não”. Então, os que poderiam ser referências se afastam. O psicanalista Christian Dunker, da Universidade de São Paulo, acredita que o exercente do poder quando quer ir além, buscando se tornar uma espécie de senhor absoluto do mando, do poder cria para si uma espécie de patologia do narcisismo que está sempre em descompasso com a individualização, em uma repetição tão firme de suas convicções que começa realmente a acreditar que o mundo é à sua imagem e semelhança. Quer fazer de seus seguidores, eleitores (ele chamara de súditos) uma espécie de um espelho seu. O saudoso psicanalista Flávio Gikovate aborda o poder como gatilho sensível e superlativo da vaidade, que leva a desenvolver certa aversão com relação aos acontecimentos, especialmente aqueles que não combinam com os que os poderosos de plantão gostem. Passa-se a brigar, reflete o insigne estudioso, contra a realidade e a substituí-la por suas ideias. Num determinado momento, passam a acreditar que as suas ideais correspondem aos fatos, e o que for contra elas não existe. A vaidade do poder, em verdade, cega e subtrai o bom senso, afasta da realidade e do que seja possível conceber como tal, propondo sempre conflito de preponderância de pontos de vista, de “verdades”, sempre no afã de prevalecer a sua narrativa. O fã em qualquer instância precisa exercer a reflexão sobre os fatos e não para aquilo que gostaria que eles fossem, por ter como protagonista o seu ídolo, alvo da admiração, pois a constante justificativa, defesa com a intenção de suprir a percepção da realidade poderá nos levar a uma situação de aprofundamento de neurose.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz