O homem mais poderoso do mundo pegou o coronavírus, o seu médico particular disse, no primeiro momento, que ele não precisou de suporte de oxigênio, mas o chefe de gabinete do presidente Trump desmente a equipe, afirmando que o presidente “enfrentou período preocupante”. Médico volta atrás e afirma que houve suporte de oxigênio. A verdade é que estamos vivendo um momento do império da mentira. Mesmo sendo natural nas relações humanas e até, sob muitos aspectos, necessária, a mentira tem se tornado ao lado da desinformação uma forma de convencimento explícito, sem dissimulação. Vemos autoridades mentirem sem qualquer constrangimento, mesmo sabendo que serão confrontadas por dados, pela realidade. As redes sociais têm sido um grande veículo para a disseminação de mentiras e desinformações perigosas, principalmente quando envolve saúde. O médico e chefe de pesquisas do Hospital Albert Einstein, Luiz Rizzo, chega a afirmar que “as redes sociais atrapalham imensamente a produção científica”. Vemos, assim, um achismo sem precedente sendo colocado sobre a ciência, em uma espécie de basta alguém dizer que fulano tomou tal remédio e ficou bom, que se soterra todas as pesquisas científicas e posicionamentos da ciência. E nesse capítulo estamos vendo que o presidente americano não está fazendo uso da hidroxicloroquina, como sempre asseverou ser eficaz. Infelizmente, as medidas mágicas se tornam mais fortes quanto mais as pessoas se sentem fragilizadas, inclusive como forma de proteção, de fugir da realidade, quando esta se apresenta difícil e assustadora. Pior, no entanto, é quando os fatos se tornam irrelevantes, diante de macrointeresses. “Assim como a racionalidade, a irracionalidade também tem uma lógica interna, um funcionamento capaz de se retroalimentar e reforçar, independentemente dos fatos”, escreveu o jornalista Lourival Sant’anna, afirmando que aprendeu tais lamentáveis verdades nas coberturas de tragédias, guerras, terremotos e até epidemias. O problema é quando a mentira se torna princípio de verdade, uma espécie de hábito cotidiano. Há pessoas que sofrem desse distúrbio contumaz de mentir compulsivamente, mesmo sem proveito próprio, são os mitômanos. Nesse estágio, a pessoa concebe fantasias sobre qualquer assunto com naturalidade. O grau de perigo é elevado quando a pessoa passa a acreditar como verdade as suas mentiras, na forma de autoilusão. E se for uma chamada formadora de opinião, aí é que tudo se complica mais, pois os problemas com suas ligações psicoemocionais evidenciam complexos como ansiedade, medo, insegurança e frustração, carreando milhares as suas neuroses, a depender da sua popularidade nas redes, estabelece-se uma onda assustadora de achismos e preocupantes posições.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz