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Não se combate o não reconhecido

O assassinato de João Alberto, – infelizmente até aí estão levantando dúvidas, considerando que ele deu um murro no rosto de um dos seguranças, “caracterizando” as reações advindas, por parte dos seguranças, de autodefesa,  mas mesmo assim...sigamos. Gerou, no Brasil afora, uma série de discussão quanto à questão racista no Brasil. Sem dúvida alguma, que toda ação que pode ser potencial desqualificadora na arena do poder político, que sempre buscará enfraquecer, minar posições de adversário será utilizado. Não há ingênuos nessa rinha. É preciso, no entanto, que aceitemos que o racismo brasileiro é o mais perigoso nas relações do poder e desconstrução dos negros.

Claro que aqui nunca houve separação de negros e pretensos brancos em ônibus, escolas...como trouxe o Vice-presidente, dizendo ter vivenciado isto nos Estados Unidos, no final da década de 60. O nosso é muito pior. Sabe por quê? O racismo objetivo, registrado de forma concreta, quando, por exemplo, alguém é chamado de macaco, para ficarmos só no primeiro degrau, ele é autodenunciador, sabemos de quem partiu o ato racista, mas quando ele é negado por sistema, desfigurado por objetivo e desconstruído por estratégia, haja vista que não ser, o não existir, não precisa de ação de combate, mantém-se o status quo. Você encetaria alguma mudança estrutural em sua casa, se ela se se apresenta aparentemente bem, com zero indício de trincas e rachaduras?

Tudo que ameaça mudança de estrutura que gerou acomodação e conforto a segmentos e pessoas, não tenha dúvidas: não será reconhecido, será combatido.  O fato é que o racismo permanece operando de forma efetiva no mundo, mas poucos são capazes de identificar claramente suas ações, inclusive. porque não se percebem com ódio racial, mas também não se dão conta que foram estruturados por conceitos que escondem, que não evidenciam o racismo brasileiro. Disseminam-se no senso comum falácias, mistificações, narrativas mentirosas com o objetivo de não gerar pontos para novas perspectivas e percepções. 

Quando debruçamos em estudos, teorias sociológicas dedicadas a  explicar como o racismo opera no Brasil, desconstruindo, três abordagens se destacam:  a primeira delas entende o racismo como um fenômeno enraizado em ideologias, doutrinas ou conjuntos de ideias que trabalham uma ideia de inferioridade, desta forma, o adjetivo “racista” só pode ser atrelado a práticas que decorrem de concepções ideológicas do que realmente seja o fato em si.  A segunda abordagem, por seu turno, concede uma precedência causal e semântica às ações, atitudes, práticas ou comportamentos preconceituosos e/ou discriminatórios, não necessariamente na reprodução do racismo. A terceira abordagem defende  que o racismo teria assumido características nacionais nos dias atuais, em razão de “importações” de conflitos no mundo, mas não no Brasil. A última tenta reforçar as duas primeiras. 

O certo é que a questão passa por uma simples avaliação matemática, considerando o percentual de negros e pardos no Brasil e suas presenças em cenário de poder público e privado, bem como, seguindo com os percentuais nas população carcerária, presença em universidade, utilizadores de transportes públicos...cada um de nó poderá fazer a sua própria avaliação e desconstruir, em novas competências de observação, o que o racismo estrutural sedimentou dentro de nós. Isso, no entanto, não fará com que todos que se veem de forma branca na pele sejam racistas odiosos, claro que não. A percepção, no entanto, vai nos fazer ver que se não é racista em seu sentido mais cruel, poderá se surpreender sendo discriminador em seus conceitos gerais e comparativos entre brancos e negros.

José Medrado Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.

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