Temos visto um substancial aumento dos crimes passionais em Salvador. Tema de estudo de acadêmicos e especialistas em comportamento, sabemos, por exemplo, que a psicanálise desde sempre se lança querendo desvendar as razões da agressividade humana, inclusive no campo da afetividade, buscando os aspectos psíquicos para os seus desencadeadores. Estudiosos como Freud, Melanie Klein, Lacan e Winicott tentaram desvendar porque a agressividade e a violência são partes, digamos, também, formadoras do ser humano. Em seu texto Mal-estar na Civilização, Freud entende que na agressividade vemos o principal fator de ameaça à vida em sociedade. Se depreende do pai da psicanálise, em apud do Dr. Roberto Evangelista, dentre outros, que “O ser humano não é um ser manso, amável, no máximo capaz de defender-se se for atacado, mas é lícito atribuir à sua dotação pulsional uma boa dose de agressividade.”. Dessa forma, dentre as diversas formas de assassínio, veremos no homicídio passional, a paixão como motivadora, o assassinato de alguém em que se está vinculado por uma relação afetiva que pode ser sexual ou não, embasado em sentimentos em turbilhonamento, não raros, com os ingredientes do ciúme demasiado, narcisismo, possessividade, tudo implicado em desejos frustrados e rancor. Muitos desses estudiosos asseveram, inclusive, que o ciúme passa a ser o principal elemento nesses tipos de crime. A palavra ciúme vem do grego zelus, que significa cuidado, zelo, mas que na verdade não é a preocupação do ciumento, que passa a tratar seu objeto de amor com raiva, ódio, chegando ao ponto de ocorrerem agressões físicas, até desfecho trágico em um sem números de sentimentos confluentes. Sempre a linha entre a realidade e a fantasia na pessoa ciumenta é muito tênue, ensejando, não raro, imaginações que geram certezas irracionais e uma lógica sem nexo. Infelizmente, o ciúme quando se torna patológico faz com a outra pessoa, objeto do ciúme, seja vista como indispensável ao seu equilíbrio, gerando, desta forma, uma necessidade absoluta de controle, não deixando que a outra pessoa seja uma “traidora” pelo simples fato de existir fora da relação. Assoma à pessoa ciumenta um sentimento de total aniquilamento emocional com a perda da pessoa alvo dos ciúmes. A separação é inconcebível à pessoa ciumenta, porque imagina que não conseguirá sobreviver com o afastamento do objeto do seu desejo, do seu amor, da sua paixão. A pessoa ciumenta se perde e se esgota em suas necessidades de monitorar o tempo todo o seu objeto de sentir, busca controlar, sufocar além do limite do razoável, na tentativa de prevenção, de se impedir qualquer possibilidade do rompimento da relação.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz