S teven Arthur Pinker é um psicólogo e linguista canadense, que há muito vive nos Estados Unidos, professor da Universidade de Harvard. Tornou-se uma das maiores representações da psicologia cognitiva, em seu livro O novo Iluminismo: Em defesa da razão, da ciência e do humanismo ele ataca o que chama os profissionais do apocalipse, mas busca confrontar o populismo que vai se firmando em algumas partes do mundo, comparando-o como inimigo do progresso, situando-o como nacionalista tribal, que faz parte de uma corte sombria, adversária dos valores do Iluminismo. Esses valores, sabe-se, além dos proclamados pela Revolução Francesa, de igualdade, liberdade e fraternidade, também se escora no valor supremo da razão, e que toda sorte de preconceito e ignorância só iria acabar se a razão se tornar um bem inalienável e principal atividade humana. O catedrático de Harvard afirma que o populismo é expressão de um nacionalismo autoritário, que hostiliza as relações institucionais, onde o líder se expressa como o dono absoluto da verdade. Esse líder tem dificuldades reais em aceitar a ideia dos verdadeiros valores democráticos, e não quer entender que o governante é um guardião temporário do poder submetido a deveres e limitações. Rechaça controles e limitações. O populismo tem sua origem no Império Romano, especialmente nos reinados de Tibério Graco, Caio Mário, Júlio César e César Augusto. Era conhecida sob a denominação de “Pão e Circo” (panem et circenses). O povo romano era cooptado para apoiar esses imperadores através de espetáculos circenses e da distribuição de comida. Logo, o populismo faz parte da demagogia, na medida em que estabelece um vínculo emocional falso com o “povo”, a fim de se fazer forte com ele. Pinker chega a afirmar que o populismo sempre gerará o autoritarismo consentido e uma dominação imperceptível por quem é seduzido, pois as ideias são abraçadas e defendidas como se fossem princípios religiosos, irretoquíveis. Os períodos de crise sejam econômica, política ou mesmo de valores são os ingredientes precisos para o surgimento de figuras peculiares, com discursos quase messiânicos, linguagem que buscam a simplicidade, que fazem uma espécie de identificação, ainda que dissimulada, com os objetivos percebidos da sociedade em descompasso com alguma questão ou questões de um momento, de uma contingência. O professor de Harvard chega mesmo a afirmar que a retórica populista tem uma grande capacidade alienante, de mesmo cegar o óbvio e ululante, concebendo atos, palavras desmedidas como sendo naturais e cheias de lógicas, que muitas vezes levam a se abrir mão da maior de todas as possibilidades democráticas: a liberdade.
José Medrado - Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br