N a semana do Dia Internacional da Mulher, o Brasil, mais uma vez, se viu diante do corporativismo machista, em total afronta aos princípios da ética e do decoro da política. Isso porque por cinco votos a quatro, o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo derrubou na última sexta-feira o parecer do relator que pedia a suspensão do mandato por seis meses, sem remuneração, do deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) pelo crime de importunação sexual contra a também deputada Isa Penna (PSOL). O relatório tinha sido apresentado dias antes com o pedido de pena com cassação, mas os colegas do deputado assediador, bastante claro em vídeo que viralizou na internet, optaram pelo afastamento por 180 dias, afirmando que este seria o entendimento dos membros do conselho. Ainda precisará passar pelo plenário. Curioso, no entanto, foi o voto em separado do deputado Wellington Moura (Republicanos), propondo uma diminuição maior da punição, com a suspensão de Cury por 119 dias, sem os subsídios, mas com a manutenção de funcionamento do gabinete. O deputado afirmou que punição com a paralisação temporária do gabinete seria como uma pena aplicada a um pai de família que rouba alimentos no supermercado para alimentar a família, mas tem prisão estendida para sua esposa e filhos. “É isso que se pretende com esse julgamento”, afirmou, acrescentando que “seria difícil para mim, como um cristão, não saber perdoar, não ter misericórdia”. Certo está o papa Francisco quando afirma: “Dizer-se cristão é bom, mas é preciso ser cristão”. É urgente que o Brasil entenda de uma vez por todas que a violência contra a mulher não pode ser vista como algo de menor importância, em face de prevalência em toda a estrutura de poder ser comandada por homens, pois a violência contra a mulher se tornou um problema social que atinge toda a sociedade, razão pela qual não pode ser ignorado, minimizado e sim combatido de maneira estrutural, a fim de que não se estabeleçam, como ainda vemos, estímulos pela impunidade. É fato queasociedade tem evoluído e as pessoas mais jovens trazem uma consciência mais adequada sobre as questões de equidade de gênero, mas ainda precisamos trabalhar muito, pois não se trata apenas de fazer prevalecer uma ou outra lei, mas de se reestruturar uma cultura, uma prática cotidiana de que a mulher é inferior ao homem, que não merece o mesmo tratamento e condições masculinas. É preciso, inclusive, esse entendimento permear o conteúdo de avaliação e conceito das próprias mulheres, que, em geral, buscam diminuir culpabilidade dos homens próximos, como pais, irmãos e mesmo companheiros. Dia Internacional da Mulher não é para se dar florzinha, mas sim respeito e reconhecimento de valor.
José Medrado - Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br