Nesse último fim de semana, com perplexidade, o Brasil da ciência e do bom senso viu o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, conceder liminar a um grupo de juristas evangélicos para retorno de cultos presenciais em igrejas e templos. Lamentável, haja vista que fiscalização alguma vai impedir, por exemplo, que não aconteça quando exceder os 25% da determinação de Sua Excelência. Ademais, o pleito nasceu de um segmento que lidera bancadas políticas que têm se fortalecido de eleição em eleição, penso eu, em busca de uma teocracia. Não entro aqui em méritos técnicos, não os tenho, mas entendendo que há de se ter relação entre o conhecimento e o compromisso com a realidade, principalmente neste momento de agudização da pandemia. Em apud e esteio no professor e filósofo Paulo Gomes, Edgar Morin, sociólogo e também filósofo, defende que “todas as coisas devem ser consideradas em função de sua interdependência pois nada está isolado no mundo, bem como em função de seu movimento, compreendido não como o simples movimento mecânico...”, ou seja, não se deve, ainda que sob justificativas tidas como técnicas jurídicas, equacionar uma questão com base apenas nela, sem o que representa em um todo que grita, urge, em caso, por medidas contrárias. Claro que sei, o bem sei, da situação emocional e espiritual dos que têm sua fé e não a vivenciam em templo, muitas vezes em condicionamentos psicológicos de espaços físicos. Todavia, como a fé se estabelecerá se esta “concessão” ocasionar consequências indesejáveis, mesmo funestas? Infelizmente, ao que me parece, há valores de anseios não explícitos em tais buscas, aberturas. Que a ciência ao lado dos governos, sem pressões de bancadas, decida, ora. Mesmo presenciando, considerando uma possível alienação ideológica-religiosa, psicológica e claro, científica, não cabe, entendo, a um só homem determinar a possibilidade, sem exagero, de vida e morte de um conjunto de brasileiros que guardam, muitas vezes, a acuidade auditiva apenas ao seu líder, em quaisquer segmentos que sejam. O humanismo neste momento não pode ser individualista, mas coletivo. Por outro lado, em momento que consolo podem ter meios tecnológicos eficazes, considerar essa discussão como liberdade religiosa, soa falácia. Parece mais a ver com o eco no gazofilácio. Muito triste a forma como Cristo é repassado por algumas religiões, considerando que a Ele nunca se apartou o cuidar, o amar, verdadeiramente, por ações e não por meras repetições bíblicas. Vejo determinadas ponderações, considerações com tanta estranheza, que me pergunto: será que de fato essa pessoa acredita no que prega, ou o faz por algum sentimento não confessado?
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz