Muitas vezes usamos a expressão paradoxo para definir algo contraditório, mas sem compreender que efetivamente se trata de estudos envolvendo ciências como a filosofia e a matemática. Podemos, em linhas gerais, afirmar que paradoxo é o oposto daquilo que alguém tem como verdade. Trata-se de uma contradição na lógica do raciocínio, logo do argumento. É curioso que estamos vendo este paradoxo no momento de pandemia pelo qual estamos passando. De um lado notamos uma espécie de conscientização, haja vista as manifestações em site e redes sociais, em geral, do público, diante do descaso governamental federal que está repercutindo em, literalmente, funestas consequências. Todavia, de outro lado vemos, sem exageros, multidões se aglomerando, agindo como se nada tivesse acontecendo. Resolvi, sem qualquer princípio acadêmico, fazer uma pesquisa empírica com os seguidores e visitantes das minhas redes sociais, questionando o que poderia ser a causa deste descontrole pandêmico, que estamos vendo no Brasil. Sugeri oito opções de escolha, podendo ser feitas duas. Ofereci desde não tenho ideia até invasão estrangeira ao Brasil, passando por culpa dos governos estaduais e municipais, mas também inoperância do governo federal. Confesso que me surpreendi que, sem exagero, mais de 90% afirmaram que a incúria governante federal foiaresponsável. Digo que surpreendi porque até bem pouco tempo havia uma espécie de fumaça, onde não se via, não se lançava responsabilidade sobre o governo da União, que logo vinha uma onda contrária, até agressivamente. Talvez, infelizmente, doentes e falecimentos chegaram muito perto de todos nós, quiçá em nossa própria família. O pior é que o impacto psicológico da pandemia na população brasileira será de longo prazo e exigirá da sociedade como um todo – governo, empresas e sociedade civil um direcionamento muito eficaz no cuidado dos desequilíbrios emocionais que estão se enraizando na sociedade. Tenho, semanalmente, recebido nos programas que conduzo em Salvador e São Paulo (rádio e TV) perguntas sobre suicídio em uma frequência que nestes meus mais de 30 anos de mídia nunca tinha acontecido. As pessoas estão precisando ser ouvidas, precisam de escuta. O sentimento de impotência, o medo do futuro, a própria situação econômica têm deixado as pessoas aflitas, sem falar, naturalmente, da fome e sua infame corte. Ainda, no entanto, percebemos o presidente da República insistindo em suas narrativas negacionistas, influenciando milhões de pessoas, que tentam banalizar o momento, enceguecendo-se para a tragédia do entorno. É lamentável que não tenha havido um real despertamento sem coloração partidária, porque se trata de brasileiros, de seres humanos e não votos.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz