Nessa última semana duas cenas explicitaram a tendência machista de grande parte dos homens em interromper falas de mulheres. Uma foi quando a jornalista da GloboNews Natuza Nery freou o senador Marcos Rogério, que a interrompia o tempo todo, em entrevista naquela emissora, a ponto de ela, com elegância, mas firmeza, questionar: “O senhor vai me deixar concluir? Ou o senhor vai fazer comigo o que o senhor faz com as senadoras mulheres na CPI?”. A outra atitude de interrupção foiado governador João Doria, que, não satisfeitos com a fala da deputada federal Carla Zambeli, em loas ao presidente da República, passa a rebatê-la com raiva. Esses não são comportamentos novos. Estamos “acostumados” a ver, quando uma mulher está falando e, antes de ela concluir, ser interrompida. Geralmente, o homem passa a “interpretar” o que a mulher está justamente falando. Esses dois comportamentos, interromper e explicar, têm nome em inglês, ainda não em português: manterrupting e mansplaining. O termo mansplaining foi popularizado pela escritora norte-americana Rebecca Solnit, no livro “Os Homens Explicam Tudo para Mim. Nele, ela relata como um homem lhe explicou o que dizia o livro, que ela mesma havia escrito. Eles acontecem em todas as áreas das atividades femininas, menos, naturalmente, onde os homens não participam, por óbvios motivos. Acontece no espaço acadêmico, na área profissional, nos relacionamentos familiares e amorosos, mesmo em situação específica da mulher ou em sua área do domínio. Estudos psicológicos já direcionam consequências reais para as mulheres, desde insegurança até problemas profissionais de liderança. Sheryl Sandberg, chefe de operações do Facebook, explicou isso em um artigo do jornal The New York Times, noticia a jornalista Laura Reif: “Quando uma mulher fala num ambiente profissional, ela caminha na corda bamba. Ou ela mal é ouvida ou ela é considerada muito agressiva. Quando um homem diz exatamente a mesma coisa, seus colegas apreciam a boa ideia”. Infelizmente, o que se percebe ainda é uma ideia retrógrada e nada cabível na terceira década do século XXI, que as mulheres valem menos em suas posições do que os homens. A professora da Harvard Business School Francesca Gino afirma que tudo isso é em verdade reações do inconsciente coletivo de uma sociedade que cristalizou a convicção de que homens são líderes mais capazes, em razão da sua constância em lugares de poder e decisão. Na Idade Média, os pensadores da época usavam a palavra latina que designava o sexo masculino, vir, lembrava-lhes virtus, isto é, força, retidão. Enquanto mulier, o termo que designava o sexo feminino, lembrava mollitia, relacionada à fraqueza, à flexibilidade, à simulação. Ainda, parece, que estamos no mesmo.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz