A mitomania, também conhecida como pseudologia fantástica ou mentira patológica, é um transtorno psicológico em que a pessoa possui uma tendência compulsiva por mentir. O mitômano mente quase que o tempo todo, no que fala, sejam pequenas mentiras “inofensivas”, até histórias mirabolantes extremamente detalhadas. É certo que todos nós mentimos em alguma medida, mas quando se estabelece o padrão de mentiras como maneira usual de ser e se expressar, é doença. Infelizmente, no Brasil os políticos estão legitimando a mentira. E o pior: a mentira surge como argumento ao que foi dito ou feito, tornando-se uma “verdade” defendida, atacando, não raro, a própria verdade, em uma espécie de inversão da realidade. O decaimento lento e constante da verdade está em sua fase mais representativa, onde para defender questões das mais esquisitas, a mentira tem sido acintosa, até sendo imposta com deboche. As fraudes e as dissimulações se alastraram como norma social, desde as postagens em redes sociais de “felicidades” inexistentes até a pregação de lógica farsante, de interesse político-partidário, não importando consequência alguma. É um vale tudo para se conquistar benefícios oportunistas e viver uma lógica sem razão, que visa a apenas interesses nem sempre detectáveis. Ao que parece se perdeu a preocupação ou exigência de buscar e evidenciar a diferença entre mentira e verdade, pois o que é verdadeiro vem saindo de cena da vida em sociedade, criando o que muitos estudiosos chamam de narrativas próprias, criadas, sem qualquer vínculo com a realidade de fatos, ações ou falas. Os falsários de todos os segmentos, não apenas certos políticos, não se constrangem mais em mentir, ainda que a sua mentira seja uma contradição do que os próprios falaram algum tempo atrás. Não falo de mudança de conceito, não. Falo de negar a si mesmo, no dito e feito. Tudo passa a ser aceito sem julgamento, nem hierarquia de valor O ensaísta Marcos Lucchesi afirma que os indivíduos vivem sob a sedução violentadora e entorpecedora de palavras mentirosas que anestesiam a reflexão crítica, ou seja, passa-se a acreditar naquilo que se quer, não mais no que de fato seja verdade. A sociedade se tornou leniente e dá permissão para que alguns atores trapaceiem impunemente os outros, em nome do poder, prestígio, dinheiro... não necessariamente nesta ordem. Nota-se que muitos se permitem a serem enganados porque também querem ser enovelados de si mesmos e de suas concepções de vida, e conceitos gerais. Surge, assim, uma espécie de sanha agressiva, que não aceita o contraditório, pois o que deve preponderar é o que se quer acreditar e defender, ainda que sejam absurdos na ciência ou mesmo no comportamento.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz