A Funarte, subordinada ao Ministério da Cidadania, este dirigido pelo deputado federal, da Bahia, João Roma, em parecer chamado técnico do projeto, nega ao Festival de Jazz do Capão, evento que acontece há dez anos na Chapada Diamantina, o seu pedido de autorização de captação de recursos pela Lei Rouanet. Lamentável. O pior, no entanto, ainda por cima, vem logo no início, quando querendo dar um ar mistificado de erudição, apôs: “O objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma.”–J.S. Bach, alemão que morreu em 1750. E assim foi em todo parecer que li, com citações sem sentido. Deu-me a viva impressão que o redator foi o mesmo que pôs na boca do então secretário de Cultura, Roberto Alvim, discurso sobre artes semelhante ao do ministro da Propaganda de Hitler. Pareceu-me idêntico. Arte é a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objetivo de estimular esse interesse de consciência em um ou mais espectadores, e cada obra de arte possui um significado único e diferente. Estilo. Todo o parecer soa um tom religioso, relacionando a música a uma forma de arte divina. Sim, mas divina sob que conceitos? É curioso que essas pessoas se utilizam de seus achismos como se fossem os detentores do pensar humano, de explicitar como verdades absolutas seus entendimentos. Recusam-se a ensinar ao povo brasileiro, por meio de seus canais de comunicação, o devido respeito e cidadania a todos, indistintamente, como preceituaaConstituição Federal, em seu Art. 5º, que traz logo no seu enunciado: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Fazem, no entanto, o exato oposto. Mas tudo isso tem um sentido, pois no dia 1 de junho, o Festival de Jazz do Capão postou em sua página no Facebook que era “antifascista e pela democracia”. No meu modesto sentir, foi censura à proposta. Estranho, no contraponto, que o Radar, na semana passada, noticiou que o humorista muito afinado e cheio de elogios ao governo federal, Dedé Santana, obteve aprovação para captar 1,2 milhão de reais na mesma Lei Rouanet. Esses senhores poderiam fazer uma rápida consulta ao Google e ver por lá que arte é toda e qualquer manifestação que emane do ser humano, traduzindo o seu interesse de consciência, em uma espécie de pulsão de percepção do seu realizador, o artista, com base em suas experiências e buscas de significado e representação para o seu sentir. Querer, portanto, restringir estas manifestações em estreitas concepções anacrônicas, é tentar fazer uma das engrenagens da vida retroceder no tempo e espaço, impossível. Os conceitos mudam, as pessoas mudam, a forma de ver o mundo também precisa mudar. Os meus conceitos servem para mim, eu dissemino no alcance que eu puder, mas fazer do que penso a regra de ouro do pensar humano não é apenas uma tolice, é estupidez.
José Medrado mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz