F ernando Tenório, psiquiatra de Alagoas, alcunhou uma doença para explicar um processo que tem se tornado crônico no Brasil: doente de Brasil. O fenômeno começouaser notado por diversos psiquiatras em seus consultórios nos últimos anos de polarização política, e não apenas pela pandemia. Famílias foram divididas, amizades acabaram, as relações se estabeleceram entre nós e eles, em tempo que problemas econômicos crescem, desemprego assusta, condições de trabalho se deterioram, mesmo para os que poderiam trabalhar home office. As queixas são sempre em torno de ansiedade e depressão. O Brasil com a sua polarização política se tornou extremamente tóxico, à semelhança de relações pessoais que guardam sofrimento a partir do momento que fere, suga, desrespeita ou passa por cima do indivíduo e dos seus valores. Os limites vão sendo perdidos, e os envolvidos passam a se permitir agressões crescentes, mesmo as que são tecladas e não faladas. Personalidades estão sendo alteradas ou exteriorizadas sem restrições, evidenciando, consequentemente, distúrbios sérios, que têm levado milhões de brasileiros a passarem por medicações potentes de tarja preta, afirmam os estudiosos da área. A personalidade é considerada alterada quando apresenta desvios importantes do modo como o indivíduo, em uma dada cultura, sociedade, percebe, sente, pensa e se relaciona com os outros. A reciprocidade de ataques está, também, evidenciando fortes traços de transtorno de personalidade emocionalmente instável, onde o indivíduo tem uma tendência a agir impulsivamente sem consideração das consequências. Revela uma falta de autocontrole e também se mostra instável afetivamente. Torna-se borderline, intenso, extremista. A instabilidade sempre será um padrão nas suas relações interpessoais. Os sintomas mais marcantes são a montanha-russa emocional e a falta de controle de impulsos. O indivíduo tem acessos de violência e ou comportamento ameaçador, em geral em resposta a críticas e contraditas de outros. Naturalmente que haverá, afirmam psiquiatras, traços hereditários, mas a potencialização dessas questões de polarização política está criando padrões de intolerância, ressentimentos e verdadeiros ódios, que têm adoecido e muito as pessoas neste quadro de medo e insegurança social que vivemos. Sempre serão não as palavras, mas os sentimentos que a direcionarão em um teclado, em consumação de ira, de ódio e formação de um rancor que talvez não seja fácil de estancá-lo mais adiante. As fronteiras foram ultrapassadas. Os problemas não mais ficaram, para milhares ou mesmo milhões, no âmbito das reais necessidades sociais: aumento da cesta básica, inflação... nada importa, pois o que conta é defender narrativas. Lamentável.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadedaluz.com.br