Estamos vendo, acompanhando as discussões por todos os lados, no meu sentir, uma grande confusão, que me soa intencional entre os conceitos conservadorismo x retrocesso. Em verdade, as expressões do conservadorismo, repito, como estamos vendo na contemporaneidade não são isoladas em um conjunto de valores e práticas que revelam uma ideologias anacrônica, em uma espécie de saudosismo do que já foi e não volta, mas, sim, um arsenal de contradições postas para a sociedade brasileira, fazendo uma mistura estrambólica entre valores e comportamentos. O que me interessa eu defendo, digo que é conservador, de direita, o que não me interessa é do outro lado. Seja ele qual for. Surge, afirmam muitos acadêmicos, uma necessidade premente e desafiadora de se fazer fronteira, estabelecendo contraposições verdadeiras na articulação da defesa de direitos e princípios conquistados pelo conjunto da sociedade. Isso é avanço civilizatório, como, por exemplo, reconhecimento a união homoafetiva. Gerou-se um reducionismo apequenado, inclusive em cores, literalmente.
Não sendo, pois, um projeto de exclusividade brasileira, a ideologia conservadora e seu modo particular de se apresentar na contemporaneidade e na vida das pessoas atacam, portanto, valores conquistados e estruturados como direitos cidadãos, na busca de uma maior equanimidade das relações de compatriotas. Estimula-se o divisionismo como instrumento de apropriação do poder, pelo poder, longe do esmaecido: todo poder emana do povo. Ora, se assim deve ser, povo não é segmento, são todos.
Não vemos uma efetividade do conservadorismo, mas, em diversos pontos, um retrocesso de conquistas, por pessoas e grupos que, não raro, só querem bajular, adular o presidente, concordando com as suas planejadas ações que visam a si e aos seus desejos de poder. São os mesmos atores políticos, em palco modificado apenas no cenário e falas, mas guardam as mesmas personas. No tocante ao conservadorismo clássico, é mister recuperar seu maior representante, Edmund Burke, filósofo e político anglo-irlandês, cujas investidas intelectuais expressam uma crítica contundente à Revolução Francesa, demonstrando intolerância com a perspectiva de liberdade nela contida, conforme exposto no fragmento, do século XVIII, de sua autoria, até parece que mandava recado por uma espécie de túnel do tempo, quando disse: “A bajulação corrompe não só o que a faz, como também o que a recebe; adular não é útil aos povos, nem aos reis.”. Se houver mudança do comando do Executivo nas próximas eleições, vamos ver esses atores confirmando “ideais” do novo inquilino do Planalto. Não são ideologias, são interesses. E o povo não se percebe.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br