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Tortura de Estado

É certo que o atual Estado brasileiro está tentando modificar a real história do tenebroso período da ditadura militar, porém esta tal “narrativa” não tem conseguido silenciar, ocultar, “reescrever” a produção permanente de ratificação dos macabros fatos ocorridos nos porões ditatoriais. Em verdade, o que se estabeleceu foi muito mais trágico que torturas pontuais perpetradas por psicopatas, mas, sim, um terrorismo de Estado que foi quase institucionalizado de 1964 a 1985. Na década de 80, durante o processo de abertura, muitos estudiosos do comportamento humano tentaram explicar que o comportamento daqueles que participaram torturando tinham problemas psicopatológicos. Hoje, no entanto, tais explicações são rechaçadas e já se coloca que, em verdade, o Estado estimulou, favoreceu tais modus operandi, com leniência e impunidade dos agentes torturadores. Isso aconteceu com o surgimento do AI-5, com a vitória dos militares da chamada linha dura, que ficou conhecida como o golpe dentro do golpe, instituindo o terrorismo de Estado. Foi aí que se formou o governo Medici (1969-1974), período em que mais se torturou em nosso país. Segundo os 12 volumes do Projeto Brasil: Nunca Mais, coordenado pela Arquidiocese de São Paulo, uma das radiografias mais completas do período ditatorial no Brasil – trata-se da microfilmagem de todos os processos contra presos políticos que se encontram no Superior Tribunal Militar, de 1964 a 1978 – 1.843 pessoas denunciaram, em Auditorias Militares, as torturas sofridas. Três volumes, intitulados “As Torturas” (1985) – num total de 2.847 páginas – descrevem de forma assustadora os tipos de suplícios a que esses opositores políticos foram submetidos, assim como os locais e os nomes de alguns de seus algozes, noticia a professora Cecília Coimbra

O pior ainda é que historiadores desse período afirmam que o Brasil exportou o terror e a morte para várias outras ditaduras latino-americanas, através de técnicas de tortura e de interrogatório, da formação de torturadores e da figura do desaparecido político. Infelizmente, por outro lado, o Brasil ainda está nessa trincheira de luta contra a impunidade, diante dos senhores de mando e de contumaz violação de direitos humanos das minorias vulneráveis. Estabeleceu-se no nosso País uma normalização geral, onde o que se vê é uma tentativa de com as chamadas “narrativas”, buscar ressignificar valores estruturados no que de fato seja democracia. Estabelece-se um simplório “é comunista”, para alcunhar a todos que defendem valores de humanidade, que não guardam, em si, coloração de matiz algum. O Brasil precisa esvaziar essas dores, deixando vir à lume o que de fato já se sabe.

José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br

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