Não podemos descuidar que milhares de inocentes estão sendo mortos pelos bombardeios israelenses na já massacrada Faixa de Gaza e agora seamplia o número no sul do Líbano. Sim, é o direito de Israel se defender. Sim, o hamas e o hezbollah são grupos terroristas, mas não se trata apenas de direito à defesa, mas também de vidas inocentes. Certamente, alguns irão falar que são os tais “efeitos colaterais” da guerra. Ora, com uma inteligência secreta tão reconhecida e eficaz, que desde as capturas de nazistas fugitivos da segunda Guerra, não teria como Israel empreender uma busca de igual natureza, com alvos específicos e bem identificados?
A violência sempre foi algo que exerce um certo fascínio sobre os homens (espécie). Duas personalidades marcantes do século XX chegaram a se corresponder sobre o assunto: Albert Einstein e Sigmund Freud. “Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça da guerra?”, perguntou o físico ao psicanalista, em 1932, apenas seis anos antes da invasão nazista à Áustria. Freud responde que a violência humana é inerente à condição biológica do homem, manifesta-se em todos os conflitos de relação a partir do processo mais remoto de socialização, haja vista que o homem é mobilizado por dois instintos ou pulsões, cujas atividades são opostas entre si: a pulsão construtiva, erótica ou Eros e a pulsão destrutiva, de morte ou Tanatos, ou seja: é da natureza humana a guerra.
É preciso, por outro lado, afirmam os estudiosos, quando falavam de guerra por armas letais, não nos esquecermos que hoje estamos o tempo todo vivendo em guerra, nas tais narrativas, fake news e por aí vai... tanto assim que o próprio Freud ainda na mesma carta ao gênio da física assevera que uma comunidade humana só se mantém unida graças a duas coisas: a coação da violência eoestabelecimento de vínculos afetivos, tecnicamente chamados de “identificações”, que unem seus membros. Dessa forma que nos perguntamos como achar normal, mesmo aceitáveis posicionamentos que vemos em pessoas que defendem certos princípios, ações? Identificações, eis a senha, ou a sanha. É bem verdade que também surgem as identificações, pelo sentido contrário das perspectivas da violência, pela solidariedade e amor.
A verdade é que não devemos nos permitir a normalização da violência, seja pessoal ou de estado, e que possamos também dar limites às nossas próprias identificações, em reflexão sobre o aceitável, o humano, o ético. Precisamos ressignificar os nossos sentimentos de perda e de justiça, de honra e de frustração, a fim de que não estabeleçamos guetos e bolhas do que soa suave às nossas interpretações de sociedade, principalmente as que sejam ações violentas, brutais e inumanas.
Líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal. Também é apresentador de rádio.