Entendo que há uma energia no Universo que impulsiona os pesos e contrapesos na busca da harmonia. Não se trata aqui de conceitos religiosos ou de metafísica pejorativa. Absolutamente não. Trata-se de forças, de leis que regem os equilíbrios dos Astros, que influenciam os comezinhos do nosso dia a dia, como a Lua nas marés. Assim, não vejo ao acaso o Globo de Ouro que Fernanda Torres ganhou de melhor atriz dramática, com um filme que recorta uma família na ditadura militar brasileira, bem como esta escolha ser na
semana em que pontuaremos a tentativa golpista que se estabeleceu no Brasil, na última eleição presidencial, que culminou com o dia de hoje, 8 de janeiro em 2023, com a invasão das sedes dos Poderes do Estado brasileiro.
Infelizmente, muitos ainda recorrem a discursos clichês da década de 60, ao falar que não se pode contextualizar golpe, sem tanques e armas nas ruas. Tolice, superficialidade de conteúdo de saber. Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, dois conceituados professores de Harvard, no livro Como as democracias morrem, refletem que a morte de uma democracia não se dá com um golpe militar, como ocorreu no Brasil em 1964, ou no Chile em 1973, protagonizados pelas Forças Armadas, com o uso de blindados e tiros, transformando uma democracia em uma ditadura do dia para a noite. Muito pelo contrário, afirmam os estudiosos que atualmente, as democracias agonizam, morrem lentamente, sendo assolapadas por dentro, geralmente por meios legais, mas fragmentadas por atitudes autoritárias.
Os líderes autoritários, afirmam os escritores, não chegam mais ao poder através de um conflito armado, mas por meio de eleições. Daí em diante, eles utilizam a lei a seu favor para expandirem suas autoridades e se perpetuarem no poder. Enfatizam, outrossim, que as democracias soçobram quando os seus mecanismos de defesa capitulam diante da demagogia dos autocratas. Tentam os aspirantes a ditadores reescrever a História e criarem conceitos e valores que se tornam agradáveis aos menos avisados, por índole assemelhada aos seus líderes ou mesmo por ignorância dos processos históricos, políticos e sociais.
Esses golpistas ao fim e ao cabo querem a sua manutenção no poder, pois sentiram o bafejo do deslumbramento e facilidades, viciam-se e buscam gerar mudanças estruturais, interferirem nas instituições de Estado, a fim de se manterem no poder. O Brasil está em um momento efetivamente em que o Universo conspira para o firmamento em suas terras do Cruzeiro do Sul de uma democracia sólida, onde a alternância do Poder Executivo se dê de forma única e exclusivamente pelo voto. Ditadura nunca mais e todos que atentam contra o Estado Democrático de Direito têm na Constituição e leis complementares a resposta, que precisa ser dura e exemplar.
José Medrado
Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz