Na semana em que o cristianismo, de um modo geral, lembra a morte de Jesus, que aconteceu por conta de perseguição político-religiosa, haja vista que efetivamente foi um subversivo, no sentido nobre da palavra, que incomodou o poder da época. Entre as suas belas histórias, a mim, em especial, chama muita atenção a parábola do Bom Samaritano, a qual convido a todos, nesses dias de tanta violência ente grupos, que ela seja a reflexão. Ato contínuo, em minhas meditações desses dias, ao ver as cenas de um senegalês quer foi cercado e morto por um policial militar na região do Brás, zona central da capital paulista. Segundo a PM paulista, que ajudava a prefeitura na fiscalização do comércio local, ao abordar a vítima, prossegue: o homem reagiu à abordagem atacando os policiais com uma barra de ferro. Naquele momento, os agentes intervieram e atiraram. As imagens não corroboram bem a história, vê-se, sim, um homem negro cercado, acuado e policiais querendo pegar a sua mercadoria e certamente prendê-lo. Era um imigrante querendo, até estimulado, a empreender. Sei que há necessidade de estabelecimento de regras, inclusive para proteger o comerciante legalizado e contribuinte de impostos, mas o que se vê no Brasil atualmente, infelizmente, é a apropriação das imigrações internacionais como pauta de extremistas, com objetivo de ganhar espaço nos discursos de ódio, fomentando um nacionalismo perigoso que já fez milhões de vítimas pelo mundo, no passado. Não nos enganemos que ainda há, sim, os nonsense, retrógrados, mas principalmente, oportunistas. que se lançam a qualquer pretexto para exacerbar onda nacionalista, repito, como explicadora das causas dos problemas persistentes como desemprego, pobreza, violência.
No caso do imigrante de São Paulo cerca de 70 organizações da sociedade civil e do movimento negro enviaram um comunicado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), relatando o caso. Muitos dão com os ombros em relação a essas iniciativas, mas o fato é que haverá exposição negativa, sim, e em algum momento vai pesar, inclusive em possíveis campanhas ao poder Executivo, em suas instâncias. A denúncia solicita ainda que a OEA “avalie a adoção de medidas cautelares, com o objetivo de oferecer proteção à população negra e imigrante em São Paulo, diante da omissão e cumplicidade das autoridades estaduais”. Essa pauta anti-imigração é tática para se atrelar à xenofobia, fazendo crescer o nacionalismo, utilizando ações de polarização para discursar e captar os anseios populares, muitas vezes com a justificativa de ameaça nacional e risco de violência comum.
O Brasil é signatário de diversos acordos internacionais, em direitos consolidados aos imigrantes, como o da regularização migratória, a proteção a pessoas em situação de refúgio, a promoção da integração socioeconômica e o combate à discriminação e xenofobia, mas o que estamos vendo é um Brasil se despindo mesmo de sua roupa de acolhedor, amigo e se tornando títere de oportunistas e pregadores de discurso de ódio diretamente contra, dentre outros, os imigrantes, que são associados a ladrões das oportunidades dos brasileiros.
Assim, que aproveitamos esses dias de reflexão pela estada de Cristo entre nós, para reavaliamos essa tal cristandade que afirmamos possuir e proclamamos com veemência.
José Medrado possui múltiplas faculdades mediúnicas, é conferencista espírita, tendo visitado diversos países da Europa e das Américas, cumprindo agenda periódica para divulgação da Doutrina, trabalhos de pintura mediúnica e workshops, escreve para o BNEWS e o jornal atarde.