W agner Moura e sua família são amigos queridos, que cultivo com muito afeto. Ele foi na última semana um dos assuntos mais comentados nas redes sociais por ter comido camarão em ocupação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra). Entendo, porém, que a questão não está na iguaria, em si, mas onde ela foi comida. Aqui não se trata de convalidar, por mim, esta ou aquela ação desse movimento e os seus motes, mas de tentar entender toda esta “revolta” sobre o camarão. De logo, os acarajés foram doados por uma mulher, já queofilme Marighella seria passado naquele acampamento. Em verdade, para quem fala, nada disso interessa, pois se não tiver, inventa. Mas por que incomoda realmente certos segmentos comendo algo melhorzinho? Pobre não tem vez.
A estrutura que muitos querem manter de uma burguesia falida, mas que se passa por “nobre”, muitos comprando produtos falsificados, só para a tal ostentação. Evidencia os valores de muitos segmentos. Lembram em 2018, o Exército, em edital de compra constava centenas de quilos de camarão, salmão, vinhos importados e nacionais, uísque, espumantes, dentre outros. Não vi grandes revoltas. Disse a Força que os consumidores pagariam pelo consumo, mas a aquisição foi com dinheiro público. Mais recentemente, agora no começo de 2021, foram mais de 700 toneladas de carne para churrasco e 80 mil cervejas – informação do Congresso em Foco –, além de mais de nove mil quilos de filé de bacalhau, 139 mil quilos de lombo do mesmo peixe, além de dez garrafas de uísques 12 anos para o Comando do Exército e de 660 de conhaque para o Comando da Marinha. Em 2019 com uma ação popular, o Supremo Tribunal Federal (STF) ignorou as críticas e decidiu acertar a compra de medalhões de lagosta e vinhos importados – com premiação internacional – para as refeições servidas aos seus integrantes e convidados.
A pobres nem osso, pois em Fortaleza já se vende osso de primeira e de segunda. Pessoas se jogando em caçamba de lixo para pegar sobras de comida. Mas também, querer o quê? “Todo mundo” estava indo para a Disney, nos Estados Unidos, inclusive “empregada doméstica”? Disse o Paulo Guedes. Pobre no Brasil não aprende. Não faço coro com quem pensa que não se pode comer lagostas, salmão, de forma alguma, mas que facilite, pelo menos, aos que nada têm alguma coisa comer. Santo Agostinho proclamou que a “esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”, e na minha pretensão ajusto: no que for possível, no possível do que você possa, mas faça. Já tomei muito mingau de cachorro em minha infância, por não ter outra coisa, mas guardei a esperança na educação, no estudo e em ajudar um pouco ao outro. Ah! Esta semana também comi camarão.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br