Na esteira recorrente das considerações de Artur Romeu, jornalista e coordenador do escritório regional da Repórteres sem Fronteiras para a América Latina, é de se esperar, quase sempre, que há uma tensão, um constante esgarçamento entre as relações de governos e a imprensa, por questões óbvias: os governos sempre querem elogios e nunca críticas. Todavia, por questões elementares, a imprensa é a responsável por fiscalizar, acompanhar, cobrar as ações de governos e, naturalmente, divulgar até mesmo como forma de pressão. É lamentável e preocupante, no entanto, mais uma vez o que vimos com os profissionais da TV Bahia e Aratu em sua missão de informar, dando-nos a firme impressão que esses atritos são uma espécie de política de tentativa de desmoralização da profissão de formar opinião, bem como desgaste do próprio tecido democrático. Durante os primeiros seis meses de 2021, o número de ataques do presidente Jair Bolsonaro contra a imprensa aumentou 74% em relação ao segundo semestre de 2020. Os dados são do novo levantamento da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF). O sistema de ataque é um método, afirmam os analistas dos RSF, soando para muitos apenas como arroubos de um presidente temperamental. De forma alguma. As altas autoridades de um país, em especial a sua liderança, quando atacam a imprensa como uma inimiga a ser combatida, gera no imaginário social que os seus prepostos (jornalistas) devem ser combatidos, hostilizados. A verdade é que os Poderes constitutivos de uma Nação precisam proteger, salvaguardar todo e qualquer jornalista, mesmo os que defendam pontos diferentes dos gestores de plantão, uma vez que a democracia se estabelece sobre a informação, opinião de analistas que avaliam momentos, ações públicas e políticas dos que são empregados do povo. O governo brasileiro, infelizmente, caminha no sentido contrário, uma vez que as falas beligerantes desses agentes públicos dão aval, estimulam a agressividade. O Estado tem a obrigação de prevenir episódios de violência contra a imprensa, o que inclui adotar um discurso público que não aumente a vulnerabilidade dos jornalistas diante dos riscos aos quais estão confrontados. O governo brasileiro adota uma postura diametralmente oposta. A fala beligerante de agentes públicos contra os profissionais de imprensa chancela atitudes agressivas por parte de seus apoiadores contra estes profissionais. Legitimar essa violência com omissão é deixar claro que não se trata de bandeira política pura e simplesmente,équestão de valores democráticos e o desprezo por estes sentimentos, uma vez que a crítica para muitos é ofensa, preferindo a bajulação, mesmo sabendo, ou não, que se trata de desfaçatez.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz