Toda vez que acontece alguma tragédia, envolvendo vida e morte surge uma perplexidade e imobilização pelo medo, pela insegurança ou nossa real falta de controle diante do inusitado que pode nos acontecer, em situações que nos confrontam com a nossa fragilidade e vulnerabilidade. Fujo do entendimento vertical de que nada acontece por acaso, pois seria uma espécie de sentença, onde todos estaríamos subordinados a situações-eventos que fugiriam o tempo todo das nossas decisões, ou seja: não haveria sentido algum falamos sob quaisquer circunstâncias do livre arbítrio.
Entendo, também, por consequência, que essa certeza (existência do livre arbítrio) tira também a perspectiva de destino, como algo pré-estabelecido. Geralmente, o que foge a uma compreensão maior, e mesmo por necessidade de explicar, de voltar a dominar, ou guardar a ilusão de jogarmos tudo para o destino, no tal já estava escrito.
Discordo. Em Psicologia, na área de análise de comportamento, encontraremos o termo contingência para definir relações de probabilidade condicional entre eventos, sejam estes eventos comportamentais (respostas) ou ambientais (estímulos). É um termo técnico para enfatizar como a probabilidade de um evento pode ser influenciada ou controlada por outros eventos. Tentando explicar: se eu desço uma escada sem segurar o corrimão, corro o risco de cair, ou não. Se eu cair posso ter de um hematoma até a morte, a depender de como eu caio, se bato a cabeça ou que parte do corpo. Logo, teria eu que passar por aquela queda ou mesmo morrer naquela situação? Entendo que não. Haja vista que tinha uma decisão de descer segurando o corrimão.
Imaginar que o destino é algo estabelecido e que não tem jeito, teremos a nossa hora mesmo, para que tudo aconteça, até a nossa morte, seria para aceitar, por exemplo, que estupros, atos de pedofilia, tráfico de pessoas e drogas...tudo isto estaria escrito em acontecer na vida das vítimas e dos algozes. Inconcebível. São atos do livre arbítrio. O pai de um querido amigo meu de Jacobina morreu neste fim de semana de COVID-19. Ele não aceitava usar máscara, nem quis tomar vacina. Estava escrito que seria assim com ele? Ou ele gerou essas consequências, por suas escolhas, decisões e ações?
A tragédia de Capitólio, em Minas Gerais, já demonstra algumas incúrias por parte de poderes públicos e também dos que promovem aqueles passeios: não se tinha estudos e avaliações geológicas daquelas rochas; a defesa civil avisou que as pessoas não visitassem cachoeiras... Ou seja: ações ou não ações ocorreram para que houvesse a possibilidade do acidente que a todos chocou.
Um outro aspecto está no tradicional hábito de agradecermos a Deus (gratidão em qualquer situação é sempre benfazejo) por tudo, agora se criou uma espécie de jargão do livramento. Seria Deus salvando, atendendo...mas sob que critérios? Já que uns morreram outros não.
Alguns poderão dizer: merecimento. E quando uma criança recém-nascida morre porque a mãe não teve assistência adequada, um pré-natal? Pode soar estranho a você, caro(a) leitor(a), esta posição de um espírita, de um reencarnacionista, mas pela própria proposta de minha fé, em ser raciocinada, não posso a pretexto de ignorar, de não enfrentar, creditar tudo ao anestesiante tinha que ser assim. Penso que não. Teremos sempre o resultado de nossas escolhas ou dos outros, que sobre nós atuam, em uma cadeia de consequências. O que não cabe, de forma alguma, o descaso, o desinteresse com os que estão em seus processos de vida.
osé Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal.