A doutora em História Eliane Fleck desenvolve um interessante conceito sobre a forma brasileira de ser e de sentir a sua sociedade. Afirma que muitos pesquisadores da obra do renomado paulista Sérgio Buarque de Holanda destacam que um dos principais objetivos do seu livro Raízes do Brasil era delinear uma “psicologia do povo brasileiro”, compreendendo seu processo desde a década de 30, do século passado. Ao abordar um dos aspectos centrais do imaginário nacional e do caráter do homem brasileiro, Sérgio Buarque de Holanda propôs uma ampla reflexão sobre os efeitos das tradições comportamentais da sociedade brasileira, afirma a também pesquisadora. A questão do ser e dos valores do brasileiro, na percepção de Sérgio Buarque de Holanda, incrivelmente, se mantêm atuais. Haja vista, que a nação do homem cordial, da natureza privilegiada, da sensualidade latente e do histórico pacifismo é também aquela que atinge índices assustadores de violência, de desigualdade social e de discriminações de toda ordem. É preciso, no entanto, entender que a palavra cordialidade, vista, muitas vezes, como concórdia, bondade, quase subserviência, em Raízes do Brasil ela é empregada em seu sentido etimológico, isto é, cordial vem de cor, cordis – coração, em latim. Tomando a expressão homem cordial de empréstimo do escritor Ribeiro Couto, Sérgio Buarque de Holanda o descreve como aquele que, dotado de “um fundo emotivo extremamente rico e transbordante”, age e reage sob a influência dominadora do coração. A cordialidade significa, então, passionalidade, aversão a todo convencionalismo ou formalismo social e tanto pode ser positiva como agressiva, ensina a professora gaúcha.
O que estamos vendo com divulgação de grupos neonazistas que atuantes já pensam em sair da web para as ruas, em ataques aos que eles não aceitam. Vemos, ainda, que a população brasileira tem se tornado em grande problema para ela mesma, de incentivo à violência, de todas as formas e natureza. O cotidiano do brasileiro está se caracterizando por ações agressivas e omissões convenientes. São pequenas regras quebradas e não seguir leis que, se apontadas ou chamado a atenção do transgressor, geram um crescimento enorme de reações violentas. Vê-se nesse clima de “liberou geral” uma derivada tolerância à impunidade, logo ao estímulo a todo tipo de violência, inclusive política, onde os tais representantes do povo, sem qualquer prurido de constrangimento, sangram com a lâmina de corrupção o dinheiro público, deixando os interesses da população à deriva da própria desdita. Não há como negar ou mesmo deixar de relacionar que a corrupção política e a social estão conectadas no mesmo fanal de violência, que estão caracterizando o brasileiro.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz