No dia em que o povo de santo se manifestou no chamado ebó coletivo diante da Câmara dos Vereadores de Salvador, evidenciando que pode mobilizar, quando há união, sem interesses pessoais, para defender princípios de suas crenças, ele é força mobilizadora, sim. A manifestação se deu contra a chamada, para doirar a pílula, urbanização de parte das dunas do Abaeté, que passariam a ser chamadas de Monte Santo. Houve um aparente recuo. Não acreditei. Afinal, com pompas e circunstâncias, a prefeitura levantou palanque com a maioria de líderes religiosos evangélicos e assinou a ordem de serviço. Ora, lógico que voltaria e realizaria o “agrado” à comunidade evangélica que apoia politicamente quem se encontra no Executivo.
Diversos segmentos evangélicos buscam o poder pela política, e estão conseguindo com competência. Fato. A presença de evangélicos na política não é novidade, mas o seu crescimento tem sido retumbante. Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) o número de parlamentares que se dizem evangélicos de 1982 para cá passou de 12 para 90. A população que se diz evangélica, no mesmo período, passou de 7,8 milhões para 26,2 milhões. São, naturalmente, muitos os fatores que permeiam este crescimento que só se avoluma. Estudiosos da área afirmam que a implantação pelas igrejas neopentecostais da Teologia da Prosperidade, é um deles, com grande apelo. O fundador da Igreja Universa, Edir Macedo, publicou em seu livro “Plano de Poder”, onde faz citações a Maquiavel e defende Deus como um estadista e Adão e Eva elementos de um estado de natureza ou de selvageria.
Sem dúvida alguma tudo lídimo, livre em suas buscas, pregações de seus princípios. É preciso, no entanto, que os gestores de plantão entendam que em um Estado laico – e aí não pode apenas ser figura presente na Constituição Federal, mas um ideal a se buscar – é um desafio, em especial de preservação a direito da diversidade de crer e buscar o divino. O Poder Público não pode, nem deve atropelar valores de qualquer natureza, em especial a que acolhe, consola, a religioso para preservar seus “alinhamentos” de interesses meramente políticos. A desculpa de que outras religiões são também “agraciadas” não segue a mesma toada, mas, sim, a de se reconhecer pessoas, culturas que fizeram e fazem o nome ecoar pela História. Alguém desconsiderará Menininha do Gatois, Mãe Stela, por exemplo. O reconhecimento das tradições nasce da certeza de que houve uma história que se marcou, por sua ação e representatividade, mas agradar, por agradar é desfaçatez. Alguns dirão que é bobagem, é um nome, uma ação... Não!! As desconstruções nascem assim, aos poucos, devagar, em uma espécie de refazimento dos processos de formação da cultura de um povo.
josé Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal