Os mecanismos de defesa foram investigados primeiramente por Freud, onde ele aponta como formas universais, ou seja, todo mundo faz uso deles, em maior ou menor escala. O uso excessivo desses mecanismos pode abrir as portas para os transtornos psicológicos. A função desses mecanismos é diminuir a tensão e ansiedade causadas pelas situações adversas pela qual o ego passa, como forma de tentar anular tais inquietudes. A negação é um deles, funciona em recusas, em aceitar a realidade, pois a verdade pode ser dolorosa demais para o indivíduo conseguir lidar com ela. Dessa forma, imaginar que na ditadura militar não houve tortura, transcende mais que uma negação, é, verdadeiramente, criar um mundo paralelo e tentar encontrar Alice. Vemos, no entanto, muitos tentando refazer um processo já estruturado na memória coletiva, mesmo considerando que a História, em seu sentido geral, tem sido imposta, seleciona e ordena os fatos segundo alguns critérios e interesses do momento, construindo, assim, zonas que se tentam esquecer, redefinir com falsas e mentirosas “narrativas”. A ditadura militar torturou, sim, e de forma cruel. Talvez com os áudios divulgados nesse domingo (17) no Fantásticos, nascidos de oficiais de alta patentes da era de chumbo, reposicionem alguns em negação, ou não. É possível até que essas autoridades militares de então venham a ser chamadas de comunistas também.
Destituídos do senso de responsabilidade ética, muitos refazem, ajustam fatos consagrados nos processos históricos da humanidade, a fim de repousarem suas versões e visões, tendo apenas como objetivo dar sustentação aos seus interesses, ignorância e ou apenas por pura falta de empatia. Justificar, por outro lado, que alguém merece ser torturado, seja por qual motivo for, entendo que são indivíduos cujos sentimentos são tremendamente deficitários, pobre e com grande ausência de afeto, ou mesmo de sentimento de civilidade.
Assim, e o fato, é que apesar de ondas e mais ondas de desinformação, não se consegue silenciar ou mesmo esconder a produção de lembranças e resgates de fatos que constituem a verdadeira história. Não se criam memórias, elas podem ser afundadas, submergidas, mas sempre vem à tona. Houve sim violação de direitos humanos ocorrida naquele período, o que para muitos foi um terrorismo de Estado. Não se trata, portanto, apenas de omissão, conivência e/ou tolerância por parte de muitas autoridades e da sociedade em geral para com tais questões, mas de uma história silenciada, que aceitou e o pior ainda estimula em alguma medida, em dias atuais, os mesmos procedimentos.
josé Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal