Nesses dias de polarização, é curioso como vemos pessoas querendo apenas confirmar suas ideologias, suas “convicções” e para tanto não importam os meios, naquele velho princípio que eles serão justificados pelos fins. Em verdade, vemos uma saraivada de necessidade de confirmação do que já pensam, agregando os tais likes, palminhas ao que a psicanálise chama de viés de confirmação, que ocorre quando um indivíduo procura e usa as informações para apoiarem suas próprias ideias ou crenças. Isso também significa que as informações que não apoiarem o que pensam serão desconsideradas, por contrariarem às suas concepções e ou mesmo ideologias. Foi o psicólogo Peter Wason quem descobriu esse efeito nos anos 1960. Em um experimento intitulado: “Sobre o fracasso em eliminar hipóteses em uma tarefa conceitual”, ele primeiro registrou a tendência da mente humana de interpretar informações seletivamente. Posteriormente, confirmou-a em outros testes, como foi publicado em “Raciocínio sobre uma regra”. O viés de confirmação vai sempre ocorrer quando desejamos, queremos que as nossas defesas sejam as verdadeiras, assim toda vez que encontramos informações que vêm ao encontro do que pensamos, ou mesmo queremos, deixamos de pesquisar, de buscar outros vieses, inclusive os científicos.
Em verdade, o princípio já é antigo, o filósofo inglês Francis Bacon, já proclamava que o entendimento de um homem se baseia em algo, uma crença do que o agrada, fazendo gravitar em torno de si quem concorda com a opinião adotada. Isso foi dito por volta de 1620. Assim, vemos que defesas de pessoas admiradas, ídolos computam exatamente o que elas têm em comum, inclusive conceitos, visão de mundo. Dessa forma, não adianta tentar fazer convencimento de pessoa alguma quanto aos seus vieses que pensam de “certezas” porque não se conseguirá.
Assim, estamos vendo nesses dias de disputa política um processo de formação de conclusões sem o menor interesse em programas de governo, de ações gerais dos que querem comandar o país, gerando uma inversão do que seria o lógico, ou seja, buscar informações que permitam definir políticas públicas, pois já se guardam conclusões preconcebidas, que sirvam de respaldo para o que se pensa, se quer, ignorando tudo que venha ao contrário a estes desejos. Essa é a cilada que milhares ou milhões de eleitores caem, quando se tornam organizadores de torcida, em disputa para ver o grupo que faz a maior “ola” no estádio, ou arena das brigas e agressões. E, claro, os protagonistas desse jogo sabem, e jogam para a torcida com mentiras e carícias aos ouvidos de suas claques. Entendem, por exemplo, que a sua produção de fake manipulará da forma e direção que eles querem. A cara de pau dos atores será essencial.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.b