Temos ouvido muito se falar em pauta de costumes, ou seja, pessoas, em geral, que buscam uma espécie de reedição de comportamentos sociais de tempos passados. Impossível. A sociedade tem a sua dinâmica própria, em constante movimento de mudança. As pessoas não entendem que a tida moral não é enrijecida e está sempre atrelada ao contexto social. Assim, o conceito será elástico, dependendo sempre do momento, do lugar haverá alterações comportamentais. Dessa forma, a moral é irretrocedível, porquanto adaptável aos diferentes momentos históricos pelos quais passam uma sociedade, uma comunidade. Todavia, a ética não. Ela, a ética, sempre será atual e de certo modo universal, não localizada. Haja vista que é uma ciência que estuda os motivos que constroem e ou distorcem os padrões de comportamento do ser humano, resultado da convivência em sociedade.
Por isso, muitas vezes, vemos pessoas se apoiando em uma aparência de legalidade para justificar ações que fogem à ética. O legal nem sempre é ético. Reporto-me a essa reflexão para colocar em comento o levantamento do Estadão, onde afirma que 14,5 milhões de reais em emendas parlamentares foram gastos com artistas em 48 cidades de até 50 mil habitantes. Ora, não se trata apenas de se questionar a legalidade dos processos em si, mas os montantes dos valores que evidenciam uma estranha associação entre artistas e entes Públicos, por sinal bem diferente da importante Lei Rouanet, que se traduz em captação do artista a empresas patrocinadoras dos eventos, e não dinheiro sacado diretamente dos cofres de cidades pobres, de gente em luta permanente pela sobrevivência. É por isso que a educação, parece clichê, mas não é, se torna indispensável para se estabelecer não apenas um processo de acúmulo de conteúdo escolástico, mas, também, para ajudar a todos nós a pensarmos e tenta identificarmos as questões que envolvem os processos sociais pelo crivo da razão, estabelecendo sentido ou não sobre o que nos debruçamos, avaliamos. O certo e o errado em uma sociedade devem ser o produto de análise e não de aceitação pura e simples a depender de onde borbota, da fonte. Estamos assistindo cotidianamente e por todos os lados a um ad populum, frase latina que significa ‘apelo ao público’, onde a falácia tem imperado, pois consiste em sustentar algo que tem toques de verdade quando é aceito pela opinião pública, em vez de apelar para razões lógicas. É importante, sim, confrontar as falácias, para isto, no entanto, é preciso demonstrar, de forma educada, que a veracidade ou falsidade de uma afirmação não depende do número de pessoas que naquilo acredita, mas nos princípios da lógica, da razão e muitas vezes da autoevidência científica apresentada.