O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o armamento da população, mas desta vez enviesou mais do que é do seu costume os conceitos comportamentais. Fez uma interpretação da Bíblia para lá de estapafúrdia, quando afirmou que Jesus Cristo “não comprou pistola porque não tinha” na época em que vivia. Citou um trecho bíblico para justificar seu argumento. “Jesus os adverte: ‘Agora, porém, quem tem bolsa, pegue-a, assim como a mochila de viagem; e quem não tem espada, venda a própria capa e compre uma’”, disse. Ainda bem que o presidente não lembrou outra passagem, em Mateus, quando afirma: “Não pensem que eu vim trazer paz ao mundo. Não vim trazer a paz, mas a espada”. Vê-se, de imediato, que o presidente não tem assimilado o sentido de lógica, em Filosofia. Lógica tem origem no termo grego logiké, relacionado com o logos, razão, palavra ou discurso, que significa a ciência do raciocínio. É uma ferramenta para contextualizar, ajudar a pensar corretamente. Não guarda correlação com o conceito de lógica formal ou matemática, segundo a compreensão de Leibniz.
Dessa forma, depreende-se que nesse sentido, ciência do raciocínio se fundamenta na estrutura da obviedade, quando algo “tem lógica” quer dizer que faz sentido, é uma argumentação racional. Imaginar, portanto, que o Príncipe da Paz seria um entusiasta do armamento é no mínimo grande insensatez. Se assim não fosse, na possibilidade de revide, como se lê em Lucas, Ele não recomendaria: “Ao que te bate numa face, oferece-lhe igualmente a outra”. Ideal que não se adequa no possível desses dias de ódio.
Infelizmente, estamos vendo a cada dia mais e mais a religião atuando como uma falsa consciência de valor social efetivo, que guarda o objetivo de legitimar as relações de dominação de grupos políticos específicos, que longe de visarem ao sentido de religião, induzem pessoas convencias que são, em geral, usadas sem pudor, com o objetivo de defender uma ideia ou posição que desconhecem na completude, normalmente o fazem por posição social, interesses ou ideologia, sempre sem a própria análise e visão completa da situação. E nesse vale tudo, até as palavras bíblicas são usadas como fonte de fortalecimento de argumentações meramente de garantir o poder. Lamentavelmente, grande parte de religiosos, ou os que se passam por, entra para a política com base em um discurso moralista, contra os avanços sociais de cidadania, apresentando-se como restauradores da ordem, infensos à corrupção e aos pecadilhos humanos, mas há os que veem apenas a religião como escada de ascensão, na direção do poder e as facilidades que julgam que traz. E, a partir do seu próprio exemplo, querem impor seus dogmas em todos os campos, como salvadores diante do apocalipse.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br