O assassinato de Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu, no Paraná, mobilizou a sociedade brasileira. Infelizmente, muitos tentaram contemporizar o homicídio, afirmando em redes sociais justificativas das mais variadas. O fato, no entanto, é cristalino – houve um assassinato. Tenta-se, ao meu sentir, normalizar, banalizar a perda de um pai de família, que festejava o seu aniversário e certamente o nascimento de sua filha mais nova, que estava com 40 dias de vida
O assassinato e posição de algumas pessoas me remeteram a Hannah Arendt, uma filósofa e teórica política de origem judaica. Foi uma grande pensadora do século XX. Vítima do racismo antissemita, tornou-se uma pensadora reconhecida pelos seus estudos sobre os regimes totalitários e sua visão crítica da questão judaica. Arendt acompanhou o julgamento, em Nuremberg, do nazista Eichmann, chegando à conclusão que o mal praticado pelo responsável por ocupar funções na Seção de assuntos judaicos do departamento de segurança de Berlim, que encaminhava os judeus para a morte, houvera se tornado banal, no entendimento daqueles criminosos. Ela afirmava que o mal que eles praticavam era constante e fazia parte da rotina dos oficiais nazistas como instrumento de trabalho. Ou seja, a banalidade do mal é um mal que virou comum de ser praticado. Aí minha lembrança sentiu um calafrio, pois não precisa ser analítico, especialista em comportamento de massas para deduzir que está havendo, sim, uma escalada de violência política no País. Grupos sem compromisso com o ideal democrático estão se assanhando, por sentirem que as pessoas estão, na gíria do momento, passando o pano em infames comportamentos desconstrutivos do respeito às diferenças de opinião e posicionamento no espectro político nacional. As opiniões políticas de grupos, que deveriam ser normais, estão se transformando em uma adversidade odiosa, com consequências no momento imprevisíveis.
Os extremistas, em quaisquer das posições, são, em verdade, pseudopatriotas sem amor à pátria, porque pátria não é o território físico, ou o nome dele. Pátria é o lar do coletivo, de todos, que gera um sentimento de pertencimento, de também ser “proprietário”, através de seus símbolos e associações de raiz, de vida. Precisa ser um lugar para sonhos e ideais, em que direção for, contanto que seja o da maioria e sempre com respeito aos que não sejam e não pensam uniformizados. Não pode se tornar em campo de mortes fratricidas e desmando de toda e qualquer natureza. Quem ama a sua pátria dela faz morada de respeito aos regramentos constitucionais, legais e aceita, simplesmente, o diverso que grassa naquele solo, haja vista “Se o penhor dessa igualdade; conseguimos conquistar com braço forte”.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br