A doutrina espírita tem no chamado pentateuco kardequiano a base de orientação dos seus profitentes, especialmente em O Livro dos Espíritos, haja vista que os outros quatro são, por assim dizer, expansão do dito neste livro. Ressalte-se, por antecipação, que não existe na doutrina espírita hierarquia alguma de qualquer ordem, nem pessoal, nem institucional. Cada centro é conduzido pelos seus regramentos e estatutos próprios. Dito isso, a cada dia fico mais perplexo, ainda que entendendo à luz do que aqui iniciei informando, como uma doutrina cristã por excelência, que considera Jesus Cristo um modelo a ser seguido, tem em muitos dos seus profitentes, inclusive sólidas lideranças, defesa e apologias a sentimentos, comportamentos disassociados dos princípios cristãos.
Na pergunta 932, do livro-base, Allan Kardec questiona os espíritos: Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons? A resposta: Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.
Não há como, no meu simples entender, sustentar, em uma orientação verdadeiramente cristã, por exemplo, ser a favor de armamento, ser preconceituoso em todo seu nefasto espectro, ser segregador?! Não se trata de posicionamento político partidário de direita, centro, esquerda... Trata-se de vivência prática do teórico das tribunas. Deturpa-se o esteio crístico, quando o anunciado da obra de Alan Kardec vaticina que fora da caridade não há salvação. Ora, quem vai dizer que não é a legitimação social do espiritismo?
Os que se dizem espíritas, por honestidade moral, não poderão, sinto assim, deixar de se conduzir pelo caráter racionalista e iluminista do espiritismo, ainda que a omissão dos chamados órgãos “coordenadores” e seus representantes sempre foram cultivadores, ainda que disfarçadamente, de conceitos estranhos à democracia. Lá atrás, no começo do século XX, os princípios higienistas dos governos autoritários de plantão, contaminaram muitos espíritas, haja vista a estigmatização de espíritos originários: índios, caboclos e os escravizados que, em geral, eram impedidos de comunicação nos centros, como são em muitos até hoje.
O fato é que no trabalho prático do bem não há como desassociar caridade de cidadania, inclusive pela aceitação da diversidade absoluta das individualidades. Cabendo-nos, por fim, o avanço sempre das instituições e seus desideratos na busca da equanimidade possível, como instrumento de mitigação do egoísmo. A questão nº 573 de O Livro dos Espíritos indaga em que consiste a missão dos espíritos encarnados? Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br