É profundamente lamentável, por todas as justificativas e explicações, este processo de deterioração das relações por conta da estreiteza mental nas discussões políticas. As pessoas se colocam no modo detecção de quem é do tal este ou aquele lado. Estabeleceu-se até disputa por espectro de cor. Uma evocação obsedante por se possuir cores e termos, como patriota. Filha do compositor João Gilberto, Bebel Gilberto causou polêmica durante um show realizado nos Estados Unidos. Um vídeo da apresentação da artista, que circula nas redes sociais, mostra a cantora recebendo uma bandeira do Brasil da plateia. Em seguida, ela jogaopendão no chão e pisa, como se estivesse sambando. Lamentável. Ela depois se desculpou. Naturalmente, naquele momento, ela não pisava no símbolo do Brasil, mas na apropriação deste símbolo por uma representação conceitual partidária. A nossa bandeira, permitam-me a redundância, é nossa, assim como o 7 de Setembro é da unidade do povo brasileiro. É data cívica, não de campanha eleitoral.
Em roda de conversa com amigos, percebi a já existente preocupação no uso de determinadas cores, a fim de não serem colocados neste ou naquele “grupo”. O pior que isso está acontecendo com as cores da nossa bandeira, da nossa, de todos nós. Por outro lado, também o vermelho. Esse, no entanto, penso, é apenas uma cor, que não representa símbolos nacionais brasileiros. Esses mesmos amigos externaram que vão buscar uma “cor neutra” no dia das eleições, a fim de evitarem embaraços ou possíveis agressões. É impressionante como a insensatez do fanatismo estabelece disputas de toda natureza, até por cores. São divisões de todo jeito, acirrando os já existentes preconceitos em vários ângulos das atividades nacionais. Estabelece-se a estreiteza mental – pois o fanático perde a capacidade de visão de conjunto ou dos fatos em si, sejam de que natureza forem. Assim, a outra pessoa sempre será a inimiga a ser superada, custe o que custar, é esta a lógica do fanático, não importando se for familiar, amigo ou estranho.
O pior, por outro lado,éque o povo brasileiro, em sua maioria, ainda não se deu conta que, em geral, a motivação dos políticos profissionais sempre será a conveniência do momento, por mais que eles se exponham neste comportamento, mas os votantes não veem. Dessa forma, na lógica deles, o inimigo de ontem será o amigo de hoje, as propostas abraçadas ontem serão esquecidas hoje, e tudo se ajeitará, mas os fanáticos defensores de pessoas se apartam de afetos, tornam-se inimigas, quando não acontecem tragédias. Não nos esqueçamos do assassinato de Foz do Iguaçu, onde famílias foram destroçadas e dificilmente farão composição, à moda dos nossos políticos.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br