É profundamente lamentável que a imprensa brasileira está aderindo sem analisar, ou mesmo pesquisar o significado de guerra santa que está sendo sempre evocado para expor as tais disputas dos votos de um dos segmentos das dezenas de religiões que o Brasil tem, inclusive com o lastro constitucional de laicidade. É um tal de voltar a satanizar as religiões de matriz africana e chamar o outro de demônio...ambos os lados que lideram a campanha para presidência estão derrapando nesta vala que só acentuam preconceitos e fermenta a já existentes discussões fraticidas em busca da apropriação, do aprisionamento de Deus. Sem falar, por outro lado, que o nosso País tem também milhões de agnósticos e ateus, que são brasileiros, que precisam ser respeitados.
Esses operadores, informadores de notícias se esquecem que ao se referirem guerra santa, fazem alusão às lutas lideradas pelo profeta Maomé para expandir a religião islâmica no século 7. Na jihad, palavra que significa "luta", em árabe, tudo era válido, até a morte dos infiéis. Os católicos também quiseram convencer o seus devotos – parênteses: qual guerra pode ser santa, se é guerra e não paz? – se apropriando de critérios escritos por São Tomás de Aquino para regulamentar, justificar as suas incursões contra “infiéis”, as cruzadas. Infelizmente, o que se vê de fato é que a expressão guerra santa evidencia diferenças entre as religiões, em escalada de violência para supremacia de uma sobre as demais. Talvez por demanda sem pesquisa diversos jornalistas têm usado a expressão para, ainda que sem querer, gerar, despertar acirramentos, hostilidades entre profitentes de religiões às vezes de mesma cepa, mas que fazem interpretações diversas dos conteúdos bíblicos.
O estímulo da expressão, ou mesmo o lançamento equivocado dessa briga em espaço que deveria ser para o enlevo e engrandecimento da alma humana, os templos religiosos, se torna, inexoravelmente um prato cheio para a intolerância, a formação de torcida organizada, deflagrando animosidade entre irmãos de uma nação.
Pessoa alguma nessas terras brasilis tem a ganhar com a afirmação deste confronto entre religiões, muito pelo contrário, pois se corre o risco de se tornar mais dramática, ou mesmo violenta, fazendo com que os princípios de fé, que deveriam ser questões de foro intímo se tornem rinque fratricida. As religiões não podem, penso assim, se transformarem em determinadoras de códigos de valores para uma não, como dise, inclusive sobre quem em nada acredita. Sou um homem de religião, mas os meus valores cidadãos estão acima de minha fé, pois ela, a minha fé, é minha, nascida do que busquei e busco, não devendo, então, ser valores a fundamentar uma nação laica ou dirigir a cidadania de um povo. Aprendamos a respeitar a todos fraternalmente, inclusive no direito de buscar, vivenciar a religião que melhor atende aos reclames de suas almas.
josé Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal