A s religiões estão tendo um protagonismo lamentável nessas eleições, em especial as neopentecostais. Muitos já alcunham inadvertidamente o atual processo eleitoral como uma guerra santa. Dá-nos uma impressão, além da polarização política, que se busca um contexto de implantação de conflito de valores, com aparente base em princípios defendidos por correntes religiosas específicas. Jogo de cena para manipular, conduzir fiéis à formação de um poder político forte, com objetivo meramente eleitoral – votos. Não se tenta, em verdade, uma guerra de contraditas conceituais religiosos, mas de fanáticos, que sem direção no bom senso assumem as suas “verdades” como as legítimas para aplacar, abater outras crenças diversa das suas. Isso para o simples profitente, pois para os líderes é a busca do abate político. Não importando que isto seja passar por cima do que se tem como ordenamento jurídico ou a própria Constituição. Implanta-se o império da falácia, onde se traveste de verdade mentiras em essência. Nesse aspecto se vê um triste retrocesso no multiculturalismo religioso, em nosso País. Ontem os escravizados precisavam associar suas divindades aos cultos tradicionais católicos (sincretismo) para poderem exercer seu direito devocional, reverencial. Hoje, o que poderia já ter sido suplantado, é restruturado como ataques, não por verdadeira ideologia, é o que sinto, mas por interesses eleitorais, de manobra mesmo. É ultrajante e criminoso o que fazem com as religiões de matriz africana
Surgiu um entendimento estreito que a palavra de certas religiões éopuritano, divulgando preocupantes narrativas fundamentalistas, que atacam conquistas civilizatórias, portanto cidadãs, em todas as direções. Querem a reafirmação de dogmas contra o chamado liberalismo cristão e o Iluminismo em geral. Os "fundamentalistas" têm se multiplicado por toda parte, tornando-se a forma mais difundida de se "tomar posição", inclusive na invasão da mais valorosa conquista humana –aliberdade de ser, dentro dos regramentos jurídicos de uma nação. A pessoa não é mais o que seja, em sua autoidentificação, ela é o que o conceito religioso distorcido determina. Não há nada mais violento que isso. Tais formas confundem o conceito de liberdade com comportamento antiético; democracia com corrupção; emancipação com provocação; livre-arbítrio secular com transgressão, individualismo com ganância sem limites.
Certo é que a prevalência de intolerância religiosa, a curto prazo é impor à sociedade mais que uma divisão, uma forma de selecionar os que serão conceituados como bons e maus. Tudo muito lamentável. É uma armadilha sem ideia de consequência a transformação de um país laico em um fundamentalista.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br