Um impactante filme, de Barbieri, na Globoplay, Pureza, história verídica, em memorável protagonismo de Dira Paes é simplesmente arrebatador, em minha modesta opinião. Trata de uma mulher que vai atrás do filho, que no início dos anos 1990, depois de um mês sem notícias do filho caçula, Abel, que partira em busca da sorte no garimpo. Em verdade, ela se depara, nessa busca, com a sordidez do trabalho análogo à escravidão, com pessoas verdadeiramente sequestradas e mantidas escravizadas em fazendas, onde os seus proprietários se sentem acima de tudo. Sem dúvida alguma, a jornada de Pureza, mulher simples, a cara do povo brasileiro, se transformou em um símbolo de combate ao trabalho escravo. A inspiradora do filme, Pureza Lopes Loyola, detona o centro do poder, afirmando que esteve em Brasília, que qualifica de "cemitério" e "carniça". "Ali ninguém tem coração, ali só briga por dinheiro", e acresce que, durante cerca de um ano, só recebeu ajuda de três pessoas, entre elas uma procuradora da República e um radialista. Afirma que nunca pensou em desistir, que sabia que encontraria seu filho. Pureza entra nesse submundo, como cozinheira, e ao término de três anos localiza e regata o filho caçula. Hoje, Abel vive em Bacabal com a família.
O fato é que nos últimos 10 anos, mais de 13,6 mil trabalhadores em condições análogas à escravidão foram resgatados no Brasil. No ano passado, foram 1.930, o maior número desde 2013 e um aumento de 106% em relação a 2020, quando os registros mostram 936 pessoas. Os dados são da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e Previdência. Neste 2022, o país está próximo de completar 500 resgatados. A curva ascendente de alta aparece também nos tribunais. Segundo dados da Justiça do Trabalho, desde 2017 até junho deste ano, todas as instâncias trabalhistas julgaram 10.482 processos envolvendo o reconhecimento da relação de emprego de trabalhadores em condições análogas à escravidão. Entre 2020 e 2021, houve um aumento de 41%.
A ganância, a inclinação abjeta escravagista de certos empresários, juntamente com uma certa complacência do Estado, do Judiciário levam a essa gente a não se intimidar. Não se trata apenas de imigrantes da área de confecção, não. Falo de homens poderosos, donos de latifúndios, muito ricos, mas pensam e agem como se ainda estivéssemos no século XIX para trás. E aqui nem falo daquelas “famílias” que pegam meninas para “adotarem como se fossem da família”, que sabemos como prática ainda corriqueira em nosso País. Lamentavelmente, há crimes que não são apenados por cadeia, prisão efetiva, então se tornam recorrentes, reforçados. Lamentável.
josé Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal