A verdade é que as pesquisas não se enganaram, mas os que estudam socialmente esses processos afirmam que o voto envergonhado sempre esteve presente, razão pela qual o índice muito alto de certeza do sufrágio sem a possibilidade de mudança. Os que votaram sabiam em quem estavam votando, não houve engano. É assim que vimos o Pazuello ser eleito, mesmo com a catastrófica condução da saúde no momento de pandemia; por mais incrível que pareça Ricardo o Sales (o do aproveitar a pandemia para passar a boiada) teve o triplo a mais de votos que Marina Silva, ícone internacional de defesa do meio-ambiente; Damares Alves foi eleita senadora, por atuação de Michele Bolsonaro, pelo que “fez” frente ao Ministério da Mulher, Direitos Humanos; Valdemar da Costa Neto que foi preso, por corrupção, participou de diversos governos, mas não se fala em nada disto, porque poderá precisar dele, conseguiu fazer uma estupenda bancada com o orçamento secreto. Só pouco lembrados aqui. Então, não foi surpresa, os eleitores quiseram e votaram. Foi um sucesso da extrema-direita.
Ao longo desses quatro anos, sob a inspiração, para muitos, dos regimes autocráticos no mundo, houve no Brasil um avanço sorrateiro de um poderoso processo de homogeneização cultural e por uma pauta de costumes, baseada em convenientes interpretações bíblicas – que produz o que os sociólogos chamam de identity panics [pânicos de identidade], a obsessiva procura por raízes que levam a formas religiosas de nacionalismo, alimentado por conflito para prevalência de discursos retrógrados. A fascinação do pertencimento gera a hipnose de só acreditar no que a tribo aceita no grosso e no varejo.
Falam de corrupção como se ela não estivesse em seus currículos, mas o que importa? Essa luta tem sido demagogicamente manipulada com sucesso, por setores não conservadores, mas de interesses autocráticos. No Brasil é uma velha tradição, desde os anos 1940: levanta-se a bandeira do combate à corrupção para justificar o poder das oligarquias tradicionais inclusive para legitimar golpes de toda natureza, sem falar no tal comunismo que não se estabelecerá no Brasil. Imagina.
Surge uma ideologia repressiva, em uma espécie de culto à violência de todos os matizes inclusive a policial. Quem não lembra do doente mental sendo chacinado no fundo de uma viatura do Estado, à luz do dia? O Estado chancela tudo por omissão e ou naturalização dos crimes de seu interesse. Vê-se uma galopante intolerância com as minorias: em especial com as pessoas trans. Apoia-se com sucesso em setores religiosos evangélicos neopentecostais e também espíritas. Afinal o atual presidente já afirmara que: “A minoria tem que se curvar à maioria”, mas isto não é um ideal de nação?
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br