L ula foi eleito e o ideal democrático brasileiro reforçado. Sempre teremos uma infinidade de motivos a escutar porque milhões queriam a manutenção do presidente Bolsonaro e porque outros tantos milhões queriam e fizeram o retorno do agora eleito Lula. Haverá argumento para todos. Via, especialmente preocupado, que as religiões, este é o meu fanal de atuação, em suas estruturas da laicidade do Brasil sendo minada, fazendo com que um segmento religioso fosse cooptado como verdadeiro partido político e se impondo por vontade do casal Bolsonaro. Preocupava-me a crescente intolerância religiosa e aberta satanização de pessoas e religiões. Essa questão estava tão fortemente ativa, que a minha religião entrou nessa ciranda perturbadora de tal forma, que líderes começaram a “receber” mensagens espirituais como se os seus signatários fosses cabos eleitorais. Um festival de mistificação e achismo.
É bom entender que em um processo político, que determinará futuros de cidades, estados e ou país, natural se faz as discussões do que seja o alinhamento com os ideais defendidos como os melhores, não em demandas pessoais, mas em lutas coletivas. Todavia, partidarizar a religião em cima de forjadas premissas, indutoras para pessoas e suas ideologias a mim parece fora de propósito do próprio ideal de qualquer religião. O espiritismo, por exemplo, buscou no iluminismo, ou filosofia das luzes, imprimir em seu edifício doutrinárioaconfiança no progresso e na razão, pelo desafio ao conservadorismo sem nexo, na compreensão da jornada individual do ser, com o incentivo à liberdade de pensamento, no avanço civilizatório. O espiritismo, assim, é considerado um libertador de consciência, em avanços sempre progressistas, calçando no Iluminismo seu viés de concepção de sociedade. É uma emancipação do ser humano pela razão. Assim, defender estruturas de retrocesso, no âmbito social, a partir inclusive de conceitos de família sem cabimento no século XXI é, no meu sentir, uma apropriação deformadora dos alicerces espíritas. Nesse contexto de avanço, pensando o existir e calçado nas ciências de todas as vertentes se assenta a necessidade de aliar a razão à fé, ou seja, tornar a fé raciocinada. Portanto,oespírita realmente em sintonia com os pressupostos lançados por Kardec aparece no seu método, na compreensão da transformação e evolutiva da sociedade em seus costumes, em suas mudanças de consciência, através da força irresistível do progresso. Infelizmente, o cenário político levou muitos espíritas a trazerem seus equivocados e talvez conturbados conceitos para o seio da religião que por si mesma já se posiciona como agregadora, atual e não engessada em paradigmas de extrema-direita, focando pelo espectro político.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br