A o longo do governo Bolsonaro tivemos diferentes falas que eram jocosamente adjetivadas como maluquices do presidente, e sendo relevadas. Não pensei que se tratava de algo aleatório, mas de uma espécie de testes aos limites de aceitação dos seguidores fanatizados do presidente. Honestamente, faço coro com os estudiosos que já afirmam no alto de suas pesquisas e estudos que nada tem de espontâneo, mas, sim, de um projeto de sociedade, ainda que muitos dos próprios seguidores, os fanatizados, não dimensionam o que está além do horizonte, mas guardam a matéria-prima ideológica que é utilizada nesta argamassa, na forma de pensar, que serve a esta construção. Não se trata de nada engraçado, nem, por outro lado, o adoecimento de parte da sociedade. Não vejo por aí, ainda que muitos estudiosos remetam à questão de delírios coletivos. Nessa fatia populacional tem os de direita e extrema direita, não concebo conservadores, haja vista que os que se posicionam assim só trazem palavras palatáveis ao encantamento, mas as atitudes não os evidenciam. Assim, nomear a extrema-direita de “louca” é não querer ver, por exemplo, que grupos neonazistas cresceram 270% no Brasil em três anos. Estudiosos temem que as manifestações online transbordem para ataques violentos, físicos, já que os verbais grassam. Claro que não se pode generalizar nada, tratando-se de seres humanos.
O presidente em mandato não criou essa onda, mas catalisou sentimentos dormentes, latentes que só precisavam ser estimulados de alguma forma. Como não reconhecer que uma parcela significativa da população brasileira sempre acreditou que negros são inferiores, mulheres estão em segundo plano, nordestinos só servem para servir, LGBTs devem ser curados e adolescentes negros possivelmente são bandidos?
Estamos vendo que desde o dia seguinte da eleição, inúmeras manifestações dos descontentes, sejam fechando estradas, agredindo apoiadores do Lula ou fazendo apologia à ditadura, afirmam que são pela democracia, mas pedem a intervenção federal, antes pediam a militar. O fato é que o Brasil já tem centenas de células nazistas e a extrema direita avançou. Entre os de direita e da extrema-direita o presidente Bolsonaro recebeu mais de 58 milhões de votos, 49,1% dos válidos. A condenação pura e simples da extrema-direita, entendo, não avança na compreensão do que lhe dá sustentação ou base de motivação. Necessário desvelar o que de fato tem alimentado essa visão programática de sociedade, para rever ações democráticas cidadãs na direção do esclarecimento dos panos de fundo de todo este movimento. Fingir que ele não existe é criar uma fumaça de ilusão sobre o que acontece no mundo e no Brasil. É preciso atenção.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br