A ideia supremacista racial não é estupidez de Hitler para cá. Não. O Brasil, por exemplo, tinha no final do século XIX e começo do XX ardorosos defensores dessa “necessidade” de se europeizar o País. Em 1895, uma pintura que se chama A Redenção de Cam, de Modesto Brocos, exemplifica com precisão tal “branquitude” brasileira. Naquela tela há uma senhora negra orando ao Alto, tendo ao lado uma mulher parda, um homem mais claro e uma criança branca. Era a expectativa da sociedade em sua grande maioria. Tanto que em 1911 ocorreu, em Londres, o congresso universal das raças, onde o Brasil foi representado pelo médico João Batista Lacerda, que levou uma tese chamada “Sur les métis au Brésil” (Sobre os mestiços do Brasil). Na tese, ele dizia que em um século, ou três gerações, o Brasil seria um país branco.
Ao recuar ainda mais na história do Brasil, vamos ver que a política de imigração foi planejada não apenas com o propósito de colonizar territórios pouco ocupados ou de suprir a mão de obra necessária após a abolição da escravatura, mas também para “branquear” a população brasileira. Foi assim que depois da Independência, entre 1823 e 1828, o governo imperial estimulou a imigração alemã, tanto para a formação de núcleos coloniais, como para a organização de batalhões de estrangeiros no exército em formação. Então, cada família de imigrantes alemães recebeu um lote gratuito de 77 hectares, além de assistência através do fornecimento de alimentos, sementes, ferramentas e o mínimo indispensável nos primeiros tempos.
Com os resultados julgados excelentes, com início no Rio Grande do Sul, o governo brasileiro iniciou um processo semelhante com imigrantes de origem italiana, estimulando uma política do Estado voltada às experiências de colonização para a pequena propriedade no Brasil meridional. Nesse contexto, o imigrante italiano era considerado um dos melhores, pois além de ser branco, também era católico.
Naturalmente, que as razões foram explanadas de forma diversa à eugênica, falava-se em mão de obra especializada. A verdade, no entanto, é que as pessoas escravizadas, quando libertas nada tinham como incentivo ao início de uma nova vida. Será que alguém irá dizer que essas pessoas não tinham mão de obra especializada para o trato na lavoura? Infelizmente, essas questões racistas sempre foram fomentadas, fermentadas em nossa sociedade e prosseguem assim, estruturando de forma abjeta racista. Recentemente, circulou um meme pelas redes sociais, ridicularizando movimentos racistas no Brasil ao criar o conceito de “supremacistas pardos”, em razão das miscigenações do nosso povo. Não deveriam ser ridicularizados, mas sim criminalizados. Será que esse povo não concebe que uma sociedade mais equânime sempre será mais garantia para as gerações presentes e futuras? Imagine o seu neto(a) se apaixonar e constituir família com uma pessoa diferente dos padrões de certos segmentos, e a sociedade continuar ainda for tão preconceituosa?
josé Medrado é líder espírita, fundador da Cidade da Luz, palestrante espírita e mestre em Família pela UCSal