É sabido, por infelicidade nacional, queoBrasil é o país de leis que pegam e outras não. Um inominável absurdo jurídico. Não é difícil, assim, encontrarmos algumas dessas assentadas sobre esses atos de hostilidade, que temos visto. Por outro lado, ouvimos que o nosso Brasil tem leis muito boas, que só precisam ser cumpridas. Recentemente, por exemplo, com a entrada em vigor da Lei 14.197/2021, ficou claro que é crime “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”, com pena de reclusão de quatro a oito anos, além da pena correspondente à violência. Sim, isso não está acontecendo pelo País? De eufemismo em eufemismo vão grupos modificando apenas vernaculamente a proposição, mas sem maiores disfarces pedem a ruptura democrática e o estabelecimento da intervenção militar no Brasil. Estão organizados e orientados, haja vista que usavam a expressão intervenção militar e agora mudaram para intervenção federal. E nada é feito. Muitos afirmam que ignorando, a força desvanece, até concordo, mas a lição não é dada.
Circulou, outrossim, no domingo último (28), vídeo de um homem, que, usando palco instalado em frente ao Quartel General do Exército, conclamou empresários a liberarem caminhoneiros para que fossem a Brasília, bem como atiradores com armas “legais”, afirmando ainda que são 900 mil no Brasil. É a data da diplomação do presidente eleito, e tudo é visto com naturalidade. As obrigações civis e cidadãs estão avacalhadas. Ora, vê-se que as palavras são calculadas, não se fala em ruptura institucional, nada, mas há quem pensa que não se trata de uma ameaça.
Muitos acreditam e externam que se tratam de fanfarrões, jactanciosos que não vão fazer nada. Como não vão fazer? Já estão fazendo, gerando apreensão, instabilidade. Fico com os meus botões me perguntando se fossem manifestantes por melhores salários, como professores, alunos por melhorias no ensino acampados em área de segurança nacional, como são essas perto de quartéis do Exército, o que será que aconteceria? Uma jornalista do UOL que estava cobrindo os portões da Academia Militar das Agulhas Negras foi hostilizada sob o beneplácito de soldados da polícia do Exército, que deveriam dar voz de prisão aos que estavam perturbando a ordem pública, mas se limitaram a acompanhar a jornalista, orientando que fugisse do local. Ou seja, os agredidos tiveram de fugir estando no exercício de sua profissão. Punição inexistente para o afrontamento das leis, gerando estímulo e crescimento da arrogância do “podemos tudo” e “nada dá”. Sinto que assim é corroída a democracia por dentro, pela sublevação tolerada.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br