Esses dias tenho muito lembrando de um professor que tive no curso de Filosofia, prof. Pedra, quando em um dia, diante da turma, ele perguntou: O que vocês acham, diante de fatos não há argumento, é uma sentença verdadeira? Naturalmente, que todos disseram que sim, pelo menos os que se manifestaram, inclusive eu. Ele, prontamente, contraditou, redarguiu: Não necessariamente, pois vai depender de quem conta o fato e de quem o ouve como argumento. Fiquei com aquilo na cabeça, refletindo. Concluí que era uma verdade, haja vista os pontos de observação, as ideologias, o fanatismo...tudo isto como ingredientes dos interesses e daquilo que Freud definiu como defesa do ego. Sob essa questão é curioso quando saímos lendo as justificativas de centenas de pessoas quanto aos atos golpistas do domingo (8), na depredação dos palácios, representação da democracia brasileira. Não podendo negar as imagens, pois já disseram que uma imagem vale mais que mil palavras, surgiram o contorcionismo das justificativas, até o ponto de falaram de infiltrados comunistas. Curiosamente, e confrontando a própria lógica da observação, ver-se-á que as centenas que foram presas, diversas tinham postagens de há muitos em suas redes sociais de pedidos intervencionistas, golpistas.
Busquemos Freud e a sua certa teoria de defesa do ego, onde ele assevera que, em geral, é mecanismo que acionamos quando há recusa em aceitar a realidade, pois a verdade pode ser dolorosa demais para o indivíduo conseguir aceitar e lidar com ela, dificultando o contato com a realidade do que de fato aconteceu ou acontece em seu entorno. Tratam-se de formações reativas a sentimentos ou comportamentos que gostaríamos que fossem o oposto ao que, de fato, são. Em alguns casos, inclusive, há o rompimento com a realidade e nada fará a mudança da “compreensão” do que imagina que seja o real. Geralmente, há substituição de uma realidade externa por outra que não existe, ou que foi moldada a fim de evitar sofrimento, gerar proteção da autoestima e satisfação de vitória, de se chegar ao que se pretendia. Essas atitudes podem estar em diversas áreas do nosso comportamento e sentimentos. É certo que são situações que geram fissuras no bem-estar interior, ainda que aparentemente tenha uma espécie de situação de conforto. Todavia, ao longo do tempo rupturas importantes podem acontecer. Sempre o ideal é a busca do confronto da realidade que nos incomoda, posto que assim não criaremos um mundo paralelo falso, que será sempre motivo de recalque e criação de desestabilidade emocional com o passar do tempo.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz