Honestamente? Penso que a importunação sexual, ou mesmo o assédio ainda é normalizado no Brasil. A todo momento estamos vendo notícias sobre o assunto, inclusive em redes sociais, mas sempre um grande grupo a minimizar, um outro a posição do politicamente correto e, certamente, tem aquele consciente. Recentemente, vimos o suposto caso do empresário do Restaurante 33, localizado no Shopping Salvador. Lá estava o local cheio, mas só uma mulher resolveu dar apoio às meninas. E, por favor, elas estavam em um shopping, que pressupõe segurança, em um restaurante público. Não estavam em lugar algum “suspeito”. Outro caso que já ocupou, de um modo geral, o lugar dessa manchete do shopping Salvador, foi o tal BBB, que trouxe uma inusitada e dupla eliminação a conta da produção do programa, porque dois dos seus participantes teriam cometido o crime de importunação sexual a uma mexicana.
Mas antes, vamos relembrar: O Big Brother foi criado pela Endemol, uma produtora europeia, cujo um dos sócios, John de Mol, disse que se inspirou no livro 1984, do inglês George Orwell, para criar o programa. O romance mostra um futuro distópico,( lugar hipotético onde se vive sob sistemas opressores, autoritários), nesta sociedade a liberdade é cerceada por um governo vigilante – que supervisiona tudo, com câmeras instaladas dentro de cada casa, é o Grande Irmão (em inglês, “Big Brother”), pois bem assim surge este sucesso que tem se mantido no Brasil, ainda que com declínio de audiência, mas segue vivo. A verdade é que, em outros lugares, o programa nunca teve uma relevância equivalente à da edição brasileira: dos 54 países que já tiveram sua versão, 36 pararam de exibi-la. Poderíamos dizer que o brasileiro aprecia muito a vida alheia.
Voltando: a eliminação foi fartamente comentada pelas redes sociais, claro, escândalo, crime...o que, no entanto, chama a atenção, de logo, é que a emissora deixou rolar o fato, sem alerta algum, como se expectasse a reação da sociedade. A reação veio, então tomou atitude. Por outro lado, entendo, é totalmente sem sentido culpar a emissora por fomentar com bebidas em excesso, festinhas o com isto estimular à situação. O enredo do tal reality todos conhecem, principalmente os que participam, ainda que tenha os seus momentos bizarros. Esses participantes, não raro, tentam o ingresso em edição por edição, até conseguirem. O fato é que a bebida retira filtros, fazendo com que as pessoas expressem o que está nelas reprimidos. De outra parte, e infelizmente, pude constatar, e penso aqui ser o tal “x” da questão, nos comentários que busquei ao episódio, mulheres culpando a vítima. O velho enredo de sempre que a vítima “deixou, provocou”, não deu um basta. Lamento muito que ainda algumas mulheres, mesmo sob a estruturação de sua personalidade no modelo machista familiar, em geral paternal, não conseguem se desvencilhar deste engessado conceito e produzir uma onda firme, grande de repúdio a toda forma de flexibilização do “não”, mesmo quando ele é dado receosamente. Não é clichê: não é não.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz