A mim me parece que o brasileiro não leva a sério crimes que não geram de pronto mortes, ou talvez por uma equivocada cultura de que “brasileiro é tão bonzinho”, famoso bordão de uma ingênua americana, feita pela atriz e modelo Kate Lyra, nos anos 70, na Praça da Alegria. O fato é que estamos vendo um crescimento vertiginoso de propagandas criminosas pelas redes sociais e, ao que parece, o brasileiro não está se dando conta. Crimes de toda natureza, há, inclusive, nítidas mobilizações neonazistas, estruturando-se de forma orquestrada já há bastante tempo. Nos últimos anos, essas organizações vêm migrando de plataformas mais abertas, como Twitter e Facebook, para outras que não são tão buscadas pela população em geral. Estão se fixando principalmente em grupos no Telegram e no Discord, um site desenvolvido originalmente para gamers, onde é possível criar grupos fechados que são muito difíceis de serem monitorados. Outras plataformas que nem ouvimos falar como as Session, Element e Wire também vêm sendo utilizadas pelos neonazistas, sem falar no uso da Deep e na Dark Web, áreas sem qualquer regulamentação, uma internet das sombras.
Fiquei chocado quando vi a deputada federal Julia Zanatta (PL-SC), fazendo, ao meu perceber, apologia ao crime quando postou, em suas redes sociais, uma foto em que segurava uma metralhadora e vestia uma camisa com ilustração de uma mão com quatro dedos alvejada por três tiros. Naturalmente, fazia referência ao presidente Lula. Acredito que as pessoas estão se sentindo estimuladas, talvez por uma falta de presença firme das leis brasileiras sobre elas. Ainda, infelizmente, somos o tal país em que há leis que pegam e outras não. Absurdo.
Agora, nesses dias, a senadora Soraya Thronicke (União-MS), que disputou a Presidência da República, registrou boletim de ocorrência na Polícia Federal após ser vítima de agressão verbal durante uma entrevista ao vivo à Rádio Capital FM, no Mato Grosso do Sul. A agressão ocorreu quando a emissora abriu espaço para participação e interação do público. No áudio, o homem chamou a senadora de “traidora da pátria”e“piranha traíra”. Há um poder inflamatório sobre uma parcela da população, que não pode ser confundida com pessoas conservadoras ou de direita, são extremistas que apostam no caos, ou não guardam preocupação alguma com as consequências de suas ações malévolas. São realmente inspirações criminosas, bem como estratégias neonazistas, sem dúvida alguma. Faz pouco também, ou já nos esquecemos que o deputado estadual João Henrique Catan (PL) citou e mostrou elogiando um livro de Hitler no plenário da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul? Apologia ao crime não é, de forma alguma, liberdade de expressão. É crime.
José Medrado Mestre em família pela Ucsal e fundador da Cidade da Luz medrado@cidadadaluz.com.br